sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Próxima etapa: Ateliê de Escrita Dramática


O Ciclo iniciado em abril de 2010 e encerrado no mês de junho, tem agora sua continuidade sob a forma de Ateliê de Escrita Dramática.


A ideia é refletir sobre uma pedagogia da dramaturgia que não seja baseada tão somente nos cânones, que não apresente a teoria e o "manual de instruções" a serem seguidos, e sim que permita ao interessado conceber e desenvolver uma escrita que fale de seu tempo, para o seu tempo, da forma que julgar mais adequada.

Para isso nos baseamos nos ateliers d'ecritures dramatiques praticados há décadas na França e que, embora tenham feições diversas dependendo da duração, do local e dos condutores, têm em comum:


  • a prática que, vindo antes da teoria, é quem determina seus rumos

  • a livre criação, estimulada com exercícios

  • o atendimento a todo e qualquer interessado, sem o objetivo de formar grandes autores

  • o exercício crítico dos participantes

  • o coordenador como pedagogo (o que caminha junto) e não professor/instrutor – conduta inspirada na maiêutica socrática (o coordenador como alguém que ajuda o participante a “dar à luz” seus escritos)


Para uma primeira incursão no tema, indico a leitura de um artigo de Jean-Pierre Sarrazac (foto) publicado na revista Educação e Realidade, da UFRGS. O artigo pode ser localizado no link abaixo:


http://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/viewFile/12461/7381



9 comentários:

  1. Navegar é preciso. Viver não é preciso. (Fernando Pessoa)

    Após a leitura e apreciação do texto de JP Sarrazac, o que gostaria de comentar é da grande atração que senti pela clareza de suas idéias sobre os ateliês,em todos os detalhes, há uma aura de respeito em sua atitude para com todo interessado e ao mesmo tempo invalida a cobrança para formação de grandes autores, isso posto, elimina as expectativas involuntárias e prepara aos que se atrevem a se expor, a abrir a mente para o lado iluminador e esclarecedor do enigma que vem a ser escrever. Contempla o imaginário e a criação.

    Em alguns momentos o escrever pode ser um ato individual, mas nunca solitário, pois a mente povoada de mistérios, fala, conversa e gera. E creio que a proposta do ateliê é justamente tomar posse desse grande legado pré existente, não literalmente, mas como um vetor, é lançar-se a novos horizontes, descondicionados do ponto de origem. Escrever, acaba se tornando a ferramenta mais precisa e necessária na orientação e condução dessa viagem, uma bússola, tanto individual, mas muito especialmente do próprio grupo.

    Que das imprecisões, nosso rumo seja o sucesso de todos! pois navegar é preciso (...)

    Saudações,
    Elaine Bombicini

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  2. Gostei demais deste texto do Sarrazac... Realmente, fala de forma clara e precisa sobre seus conceitos e experiências e sobre como escolheu conduzir. Fica nítido seu encantamento com seus escrevedores e seus resultados. Me encantou a forma como ele fala com carinho e emoção (mesmo que contida) e que deixa que as pessoas encontrem a sua própria forma de realizar.

    Me senti impregnada desta sensação depois da leitura... Foi inspirador.

    E eu tenho muita raiva de mim, porque mesmo não lecionando atualmente, as minhas idéias vem em forma de plano de aula na minha cabeça... Isso é curioso e as vezes irritante!

    O ciclo me fez ver o quanto minha alma necessita de participar de um grupo, conduzindo ou participando, mas sempre "trocando" informações, conhecimento, experiências... enfim, vida!

    Obrigada a todos!

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  3. Trabalhando com oficinas teatro, sempre pensei o quanto é importante, não somente para atores, mas para qualquer pessoa, estabelecer em algum momento da vida, uma prática da interpretação, buscando momentos mais criativos, menos rígidos. Mas nunca tinha parado pra pensar que a escrita de textos teatrais também pode ser uma experiência, não somente para dramaturgos, mas, para qualquer pessoa interessada, tornando-a, como diz Sarrazac nesse texto, "melhor leitor, melhor espectador, melhor'compreendedor' do teatro contemporâneo". Quer coisa melhor? Apesar de dramaturga, fiquei sempre tão centrada no trabalho do ator, que 'me esqueci' que tenho experiências dramatúrgicas, vamos dizer assim, que posso compartilhar/vivenciar com qualquer pessoa.
    Outro ponto que considerei importante neste texto foi perceber a tríade- escrevedor, condutor e grupo - como base deste processo de criação. Isto se diferencia de processos de escrita individuais, solitários. Nada contra isso. Eles são bons em muitos momentos. Mas ter a oportunidade de estabelecer espaços de trocas são fundamentais para tentarmos nos enxergar através do olhar do outro, ou, dos outros...

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  4. Volto para completar meu comentário com base no que a Solange postou acima.
    Todo este processo de dramaturgia, encenação, expressão corporal, cenografia... ultrapassam os limites das Aulas de Educação Artística.
    Seria tão bom se houvessem mais projetos interdisciplinares nas escolas, que abraçassem também este tipo de oficina de dramaturgia.

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  5. Olá, lendo isso tudo, eu sinto que nada melhor do que experienciar! vinveciar! Como sempre estive ligada às artes visuais, para mim os processos de teatro educação - teatro escrita - teatro espectador, mais todo o contexto da artes visuais em atelies de passagem por onde estive, são fundamentalmente complementares. Ter essa oportunidade de vivenciar um ateliê de escrita dramaturgica (fora o ateliê literário que ja participei) é subir à um outro patamar.
    Escrever e escrever muito!!mas também integrar à outras tantas criativas possibilidades existentes, enriquece ao Olhar, ao convívio e as trocas.
    Concordo com Carina, seria excelente termos mais iniciativas nesse formato, unir para compor!

    às vezes tenho em mim que à cada vivência desse tipo nos garante a percepção crítica, nos garante um nível maior de entendimento e acima de tudo uma flexibilidade em aceitar ao outro e suas idéias. Sempre penso na arte um elemento pacificador e unificador das diferentes culturas. Nos tornamos talvez, tolerantes, mais do que isso, mais humanos, mais vivos!
    ........................................tudo que a alma aprende se eterniza.

    Saudações, Elaine.

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  6. Lendo o texto, tive a impressão que Sarrazac abre as portas de suas oficinas para que possamos presenciar, mesmo em pequena escala, seu trabalho e não sei se propositadamente mas esta forma clara que ele relata seu método acaba que seduzindo o leitor a vivenciar o ato de escrever.
    Suas "técnicas" que mais se assemelham a brincadeiras, e prefiro comparar a uma gincana, onde há uma busca para o crescimento, mais do que individual, o da equipe, onde todos estão em busca de "soluções e idéias para cumprir as provas" mostra que esta arte não está só destinada aos grandes intelectuais, às grandes mentes e como a Solange comentou, está aberta a todos que queiram vivenciar esta experiência. Estive pensando e corrijam-me se estiver errada, mas este texto até parece uma metalinguagem do seu trabalho, aberto, disposto e acessível.

    Bárbara do Amaral.

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  7. SARRAZAC - INSPIRAÇÃO
    São duas horas da manhã e não conseguia dormir
    “Um teatro em vias de fazer-se”
    Queria escrever
    “Públicos bastante variados”
    Não tinha saco pra me levantar da cama
    “Liberar a expressão pessoal de cada participante”
    Senti frio
    “Vozes silenciosas”
    Tentei dormir
    “Coro discordante”
    Me peguei pensando de novo em como será
    “Não manifesta nenhuma prevenção contra uma tal estética induzida”
    Tenho de ler mais
    “Escolhi recusar esse fenômeno da estética induzida”
    Continuar observando as pessoas na rua
    “Aqueles que já tem uma grande experiência de escrita”
    O relógio do meu quarto não faz barulho
    “Aqueles que são totalmente neófitos”
    O sono ia chegar
    “Próprio caminho”
    Tinha de chegar
    “Tensão-ação-silêncio-o eu”
    A rua fica sempre mais silenciosa à noite
    “O teatro pesa com todo nosso peso no chão”
    E mesmo assim, há muitos que também não conseguem dormir
    “Crise de paranóia familiar”
    Ou não podem, ou não devem dormir
    “Cada um faça ouvir, no sentido próprio, sua voz”
    Simplesmente porque estão vivendo
    “Uma re-escrita quase permanente”
    Ou trabalhando
    “Da qual nos fala a psicanálise”
    Finalmente eu senti o sono
    “A atenção e o interesse do ouvinte correm o risco de se esgotarem”
    E a cidade continuou... Lenta, mas continuou
    “Intertextualidade”
    Quantas coisas acontecem ao mesmo tempo?
    “Aprendeu mais ainda nesta outra obra, a vida”
    O Tempo é relativo
    “Desalojar o escritor de uma atitude do tipo “diário íntimo exposto em cena”
    Ouço isso sempre
    “Seja absolutamente transformável e adaptável”
    e a hora de acordar chegou; já era mais um dia

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  8. Acredito que o texto de Sarrazac pode ser definido por uma palavra dita pela Elaine em um de nossos encontros de escrita: "Generoso"! Sarrazac é muito generoso em seu texto, descreve suas experiências em oficinas dramatúrgicas com riqueza de detalhes, coisa que talvez outros hesitariam tanto por medo do "plágio" ou da concorrência na profissão. Seu depoimento sobre o trabalho nas oficinas lembrou-me dos momentos em que trabalhei em oficinas de criação poética, o jogo de experiências, os riscos, o uso de tudo que aprendia dentro e fora da oficina, técnicas que desenvolvia no decorrer do curso, o uso da intuição.
    Generoso é o texto de Sarrazac e gratidão é o que sinto, onde o acaso é a medida da experiência (aqui escrita e coletiva) a generosidade torna-se fôlego para quem está a deriva.

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  9. Comentário escrito por Andréia Almeida

    Estudamos que em torno dos anos 60 e 70 a dramaturgia começou a ser colocada praticamente de lado, vemos inclusive por meio de registros de renomados grupos (Odin Teatro, Tascabile, Potlash) em especial na Europa, mas também no Brasil. Intriga me por isso a frase: “No decorrer dos últimos decênios – com maior vigor em torno de maio 1968
    – a prática da escrita dramática deslocou-se do gabinete do escritor, lugar privado,
    até mesmo secreto, para a oficina, espaço semipúblico de troca e de transparência.” Frase esta que desperta em mim dois desejos: o de tentar entender de fato o que foi a tal da contra cultura, e o de tentar desvendar o que provocou o deslocamento da prática da escrita dramática do gabinete para as oficinas. Seria uma outra vertente, a qual quase não é falada nas escolas de teatro?

    Interessante ver a clareza e a generosidade com que fala. Leva-nos a refletir sobre qualquer prática artístico pedagógica. Também tão importante quanto o relato sobre a oficina é a afirmativa do desejo de que o “método” seja transformado e adaptado. Para mim, sem a adaptação, sem a adequação não seria uma prática artística.

    Pensando em nossos jovens, além da prática da escrita o ateliê pode despertar o interesse pela literatura dramática. Coisa difícil... ! Mais que esta ousadia, porém menos ousada, é almejar que os integrantes das oficinas queiram com mais intensidade observar a existência, suas sutilezas, seus desvios e as obviedades que podem ou não ser os grandes desvios.

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