domingo, 30 de maio de 2010

Agora de já de hoje. - Auto correspondência.





Uma verdade: o relógio é, é, é, é, é, é...

O foi, será, foi, será, foi, será, foi, será, não me deixaram dormir.

16:23

Estou sempre querendo ir

Para algum lugar aonde não se vai.

Esvai.

Estou numa roda gigante.

(Escuta, você está num carrossel!)

É verdade, pois vento tem rosto aquarelado.

Numa confusa aflição

Esqueci que um cão me disse, “Um, um, um...”

Falou que não sabe viver, só existe.

Ou foi ao contrário?

Ele usava no pulso uma tigela de comida.

Ele me deixou constrangida.

Odeio ser centopéia na frente de estranhos.

Uma vergonha do medo bem disfarçado.

Conto para ele que as formigas inspiraram a geladeira.

Que por todo lado vejo gente se metamorfoseando, uns viraram cápsulas, outros potes, tem homem caixa, cofre, fruteira, vaso, vasilha, bolsa, porta níquel, armário, casa e até depósito. Uma variedade enorme de insatisfeitos.

O humano é o único animal que busca auto evolução. Nenhum outro animal quer algo que não seja intrínseco a ele.

- Dois quilos de cérebro humano, por favor!”“.

- 75 anos de medo.

-Tem troco?

-Um pouco de poder e várias balinha.

-Obrigada.

(Uma massa de manobra agradece.)


Bárbara do Amaral.

(Título e imagem escolhidos pela autora da carta)




sexta-feira, 28 de maio de 2010

Esboço de teatro I e II




O post de hoje é o resultado dramatúrgico de uma situação vivenciada num dos encontros do Ciclo. A partir da leitura e análise de textos de Brecht e Beckett, do estudo de personagens, rubricas, universo de cada autor, dois participantes, voluntariamente, registraram suas impressões na forma de um texto teatral.

Esboço de Teatro I foi escrito primeiro e, teve continuação no II.

Outros textos a várias mãos continuam circulando pelo grupo via e-mail.


ESBOÇO DE TEATRO I

ALUNA

PERSONAGEM A

A Aluna se apresenta no primeiro plano. No segundo plano, a personagem A.

ALUNA – Eu sou a aluna. Participo de um ciclo de estudo que acontece as quintas-feiras a noite. Nesta última, a professora teve um problema e não pode comparecer. Ainda assim, os alunos trabalharam em grupo e decidiram enviar por e-mail suas impressões para a professora.

Entra no primeiro plano a personagem A

ALUNA/ A – (em coro) É preciso aproveitar as oportunidades que a vida nos coloca.

O contratempo pode ser um problema.

Mas o mesmo contratempo pode ser uma fagulha criativa na mente de quem participa.

É importante extrair o melhor de cada situação.

Acende-se uma luz que nos permite vislumbrar uma mesa e duas cadeiras. Sobre a mesa, papéis em branco, uma caneta, um prato com um sanduiche, um isqueiro e um castiçal com uma vela apagada. A caminha em direção a cadeira da esquerda e senta-se. Pega a caneta e olha para o papel em branco. Pausa.

ALUNA – Porque você não começa a escrever? Aproveite as idéias que teve pelo caminho e escreva.

A – continua olhando para o papel imóvel.

ALUNA – Escreva logo, já é tarde! É noite e seu marido a espera. Ande. Escreva! Ora, eu sei que muitas idéias, palavras e imagens povoam sua cabeça e não vai conseguir dormir!Deixe sair. Eu sei que deseja isso.

A – Levanta a cabeça lentamente e olha a aluna fixamente nos olhos. Pausa. Abaixa a cabeça novamente e começa a escrever sem parar.

ALUNA – Isso, muito bem, continue... Procure lembrar-se de tudo, principalmente das rubricas... Lembre-se de tudo o que leu, o que sentiu.

A – Amassa a folha, faz uma bola de papel e atira no chão com vigor. Pausa. Continua a escrever.

ALUNA – Eu sei que você gosta muito mais do absurdo, do vazio, do caos... Eu sei que o subjetivo te encanta e deixa sua cabeça a mil, cheia de idéias e imagens. Então, aproveita!

A – troca de folha e continua escrevendo. Para. Pega o sanduiche e come um pouco.

ALUNA – Esquece o lanche! Enquanto você come as idéias se vão, rumo ao vazio do NADA, muito diferente do vazio criativo que você busca.

A – Retoma a escrita.

ALUNA – O vazio do NADA abraça as pessoas e não permite que se acenda o pavio do questionamento. Depois de aceso jamais se apaga. Essa chama aquece o coração e toma todo seu ser. Você passa a olhar tudo em volta com encantamento. Passa a ter uma aura radiante e emanar vida.

A – troca de folha e retoma a escrita.

ALUNA – Você já pensou em quanta coisa que você não sabe? Que não conhece? Que não faz idéia que existe, mas que seu ser vibra por alcançar? E quantas pessoas que abraçaram o NADA e ignoram o êxtase? (Pausa) Eu entendo você. Eu sei que sou uma das poucas pessoas que consegue compreender. Chegará o tempo em que compreenderá também e saberá o que fazer com tudo isso. A oportunidade vai bater a sua porta ou a vida vai te colocar contra a parede, tanto faz!

A – para por um momento. Troca de folha. Pausa. Retoma a escrita.

ALUNA - Agora termina logo. É noite! É apenas um esboço, você não está escrevendo um livro!

A - para de escrever pensativa.

ALUNA – Vê isso tudo que criou? Há quem não compreenda. Há quem ignore tanto quanto aplaude. Há quem nem fique sabendo o que foi escrito, mas você sabe...

A – Recolhe todos os papéis e ajeita sobre a mesa. Pausa. Pega o isqueiro e lentamente acende a vela. Pausa. Levanta-se e caminha para o primeiro planto, ao lado da aluna.

ALUNA/ A – (coro) É preciso criar oportunidades , independente do que a vida nos coloca. E o mais importante é extrair o melhor de cada situação.

II

A entrega a vela nas mãos da Aluna.

A - Agora trocaremos de lugar (Pausa) Eu serei você (Pausa)

Aluna - Aceito (Pausa)

Silêncio constrangedor. (Pausa muito longa)

A/ Aluna( Uma olhando para outra como um espelho - todos as ações até o final da fala como jogo de espelho) - (coro) Entendo (pausa) Sem mim você não sabe ser eu (pausa) Eu sou duas pessoas?(pausa) Mulher?(pausa curta) Mulheres... (pausa longa) Vazio(pausa) Qual o plural de vazio? (pausa) Eu? (pausa) Nós?(pausa) Não sei escrever sem você...

Voz fora da cena: Não sei escrever sem nós...

A e Aluna tocam os dedos....

A: Eu sou um coro que escreve.

Aluna: Eu...

A/ Aluna(coro): Será que descobrimos algo?


(Esboço I: Carina Freitas)

(Esboço II - Adriano "Galego" Geraldo)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Carta pós moderna e... suicida







Verdade Verdade Ahhh a verdade
Alinhavei tudo com raios de solstício
Olhei pelo balcão da varanda e o vento empurrava a tudo
A tudo empurrava o vento
E ainda que falasse a língua demoníaca dessa medicação
Anti pânico, pan, rábico
Eu não entendo não se pode viver sem amor
E a cena ali que vi aceno aqui
A cena reprogramada
Repassando milhares de vezes
Houve razão cena
Houve a morte e a cena
Há sentido memória e cena
Invertido saneado
Qualifica o som da ponte
Memória miniaturizada
Pás de ventilador
Hélices de aviões
Laminas metálicas
Penas de escrita
e
Fluxo
Fluxo Impulso fluxo de novo
O amor que escorre
Militante
Cai tudo
O fluxo reservado esvaiu
Doce e lento venenoso
Lento e sereno viscoso
Escorrido pingado e lento
Lento e lentamente
Sem o ar, sem o amor

O amor
Secando de dentro pra fora
Usura levada ao extremo
som do mar ao longe - úmido
Molhado de sal que o olhar escorre
E a torta paisagem
com céu de lado
verticalizado – o amor,
esse, apenas como o vento empurrado
estético na estática,
dentro da poça de sangue



Elaine
2010 – Ciclo de Estudos da Dramaturgia Contemporânea

terça-feira, 25 de maio de 2010

Minha amiga, vamos pensar no assunto





Santo André, 18 de abril de 2010.

Minha amiga, estamos vivendo em uma época pós moderna em que algumas coisas fazem sentido e outras dão medo. É um período em que a indústria cultural bombardeia o homem com extrema velocidade, gerando um processo contínuo e fragmentado de emissão de informações que refletem-se na produção poética.

Numa era de simulacros em que a reprodução atingiu um altíssimo grau de eficiência e velocidade, o teatro é uma das poucas manifestações artísticas que ainda mantém sua aura. Pois o teatro só existe no momento de sua realização sendo impossível reproduzi-lo mecanicamente.

Você já viu um menino digital do século 21? Ele não sabe como viver, mas tem vários brinquedos. O computador está educando-o enquanto a mãe se vicia em algum entorpecente. Nunca foi ao teatro e diz que não gosta, mas se ele não tivesse um pai workaholic, ele iria e adoraria. Mas os pais fazem as crianças brincarem com brinquedos que não os fazem exercitar, levando-nos a viver em uma sociedade gorda e sedentária.

A correria do dia-a-dia faz com que a gente faça muitas coisas ao mesmo tempo e se alimente muito mal. O fast food está facilmente disponível, relativamente barato, a maioria de povos o encontra saboroso para se encher e podem ser comprados rapidamente.

Este fascínio inteiro com o rápido, o rápido, mais rapidamente está impactando a qualidade da vida humana de uma forma negativa. Esta é a parte que dá medo. Vamos pensar no assunto e outro dia eu te escrevo de novo.

Abraços

(Daniela Bezerra)
(A imagem foi escolhida pela autora da carta)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Beckett / Solange Dias


O post de hoje é a resposta de Solange Dias à carta publicada no post anterior "SOS Beckett":


Querida Mariana!

Não sei se você sabe, mas Beckett escreveu “Esperando Godot”, outra peça doida dele, em 1948. Depois dos horrores da 2a. Guerra Mundial, o que esperar do ser humano?

E hoje? Em tempos que pais jogam seus filhos pela janela e dão uma de desentendidos, em que os assaltos são realizados dentro de delegacias diante dos olhares patéticos dos policiais, o que esperar? O que é realmente absurdo?

Adoraríamos que os absurdos estivessem somente nas peças, nas ficções. Que fossem apenas loucuras da cabeça de algum escritor. Mas não é. O artista só revela, de maneira contundente, aquilo que nossos olhos teimam em não ver, aquilo que nossa alma teima em não aceitar, ou busca entender.

Sei porque a Adélia me pôs nesta roubada maravilhosa de também tentar ajudar você, Mariana. Ela sabe que adoro Beckett desde o primeiro dia que li “Esperando Godot” no nosso tempo de faculdade, nos idos dos anos 1980. Esta mesma faculdade que vocês se encontram às quintas. Até hoje, mesmo que eu resista, me influencio por ele.

O impacto da leitura do meu primeiro Beckett, foi parecido com o seu, Mariana.

Primeiro me perguntei se aquilo era peça: Cadê o conflito tradicional? Como esperar por alguém que nunca chega? Como pode? Oras...

Depois me encantei pela poesia do texto: meus vinte anos se identificavam com aquela solidão de Wladimir e Estragon, com aqueles infindáveis silêncios torturantes.

Então percebi que eu não deveria buscar entender nada e, sim, trabalhar aquela sensação que me incomodava e que ao mesmo tempo me seduzia tanto, produzindo, criando alguma coisa que pudesse responder àquele impacto.

Meus primeiros textos de teatro foram estimulados, provocados por esta pessoa, por Beckett. “Ponta de Caneta” de 1991 (acho), por exemplo, é um texto descaradamente influenciado pelo universo de Beckett, e que escrevi a partir dos temas áridos, bem vindos, propostos pelo grande Luis Alberto de Abreu.

O Paulo Leminski, outro grande, dá algumas dicas boas sobre Beckett:

“Talvez nenhum escritor do século XX apresente o ser humano nas mais extremas fronteiras de abjeção e precariedade como o pai de Godot. Os personagens de seus romances e peças são aleijados, paralíticos, moribundos, a humanidade no limite máximo da carência e da penúria, mais digna de nojo e asco do que piedade e pena. (...)

O desespero de Beckett não é daqueles que se curam com soluções sociais ou coletivas, no sentido de uma sociedade mais justa e mais construtiva.

É uma desesperança integral, essencial, inspirada na decadência física do homem, na falta de sentido de todas as coisas e na certeza da morte. Beckett é um escritor de vertigens.

Implacável, não acena para o leitor nenhuma luzinha de consolo.

O desespero em Beckett não tem origens econômicas ou sociais.

É um desespero metafísico, por assim dizer. (....)

Beckett é o poeta da solidão e da incomunicabilidade.

(...........)

Beckett é um virtuose de vazios.

Só um mestre dos vazios da linguagem poderia falar tão bem do vazio (ou dos vazios?) da existência.”

Pensando nisto, ainda estou sobre o impacto do espetáculo “Amores Surdos” de um grupo maravilhoso, o Espanca de Belo Horizonte, que estará neste final de semana no SESI de Mauá, e que a Adélia também colaborou na elaboração dramatúrgica. Se não assistiu, assista, Mariana. Vale por tudo: texto, direção, atores. Mas, acredito também, vale para buscar entender outras coisas...

Assistindo “Amores Surdos” me aproximei muito das referências do Teatro do Absurdo: a corrosão dos relacionamentos, da dificuldade de se dizer o que realmente precisa ser dito, do conviver com aquilo que você não pode matar, dos vazios da existência, desta solidão e incomunicabilidade percebida em Beckett.

Mariana, se tudo isto ainda não te ajudar, chame por Clarice Lispector, outra grande. Tem uma frase dela, que me valho, toda vez que me sinto perdida. É assim:

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Acredite! Em última (ou primeira?) instância, o seu não entender, a sua doença, é o grande, o melhor remédio.

Existem entendimentos que ultrapassam o que convencionamos chamar de racional. Eles passam por outro caminho, ali, mais perto da alma, mais perto do intuitivo.

Pelo menos, pra mim, este caminho tem me valido muito.

Acredite, tem sido minha salvação...

Boa sorte, querida!!!

Solange Dias

SOS Beckett



Olá Adelia!
Semana dura...cabeça que pesa, que pende para vários sentidos, o de desistir, de fazer o que realmente quer fazer, abrir nem que seja á faca o caminho, as idéias...
Inicio esse mail dizendo tais palavras não como uma justificativa, mas como uma forma de buscar um direcionamento. Me incumbi de analisar Beckett e descubro um vazio, vazio que veio ao ler "Coisas e Loisas", li(hummm), reli( hã?) li em voz alta( mas.. como assim?) e nada. Acho que da mesma forma que o nada acontece nos textos de Beckett, um nada mais estupido ocorreu em mim. Titubeei várias vezes escrever algo, o lápis e o papel repeliam-se, impedindo que eu anotasse algo. Na pausa dos personagens, eu paralizava, parecia que eu estava esperando que fosse feito algo da parte de A e B. E o nada ainda imperava.
Em uma de minhas leituras, minha mente fugia. E quer saber? Deixei ela fugir. Lembrei da última aula, de Brecht, o "Eu " lírico, a lente do cinema, as colocações indiscutiveis de nossos dois colegas, no pirulito de maça verde, na pasta que não comprei, no meu interesse pelo Teatro do Absurdo, em Monty Python, Surrealismo, Salvador Dali, Beckett, ai Beckett...
Em uma das minhas leituras, cochilei, mas de pronto voltei ao ambiente hostil do meu trabalho, só, vejo que o nada imperava. Se além daquelas palavras tao bem escritas na xerox estavam dois personagens tentando compreender ao outro, ou principalmente, a si proprio, lá estava eu, do outro lado, na "Vidinha real", com cara de vazio, abrindo uma guia no explorer para buscar algo que me impulsionasse a esse universo. E mais uma vez, dentre tantas informações desencontadas, veio meu amigo NADA.
Pra mim foi o fim. Ou o inicio deste e-mail. Penso na impossibilidade de compreender o outro quando não conseguimos nem compreender a nós mesmos. E agora José? Devo jogar palavras ao vento na tentativa delas voltarem respondidas a mim? Ou grito merdas, elefantes, tapetes e limos, e vejo no que dá?Sei lá..
Hoje, terça feira, antivespera de sua aula, sinto-me na impossibilidade de pontuar algo que ninguem pontuará quinta. Hoje estou meio B, somente me deslocando em linha reta, mas diferente dele, não olho ao redor pois não consigo, no entanto sinto que sou um pouco A, ouvindo sons, mas não sabendo quais são; não sentindo mais o fim do dia( ai q horror!!!).
Gostaria de um norte para esta enxurrada de questionamentos. Que no final das contas torna-se apenas um: Meu cronico desnorteamento intelectual.
Até lá, questionarei o absurdo dentro de mim. Semestres melhores virão.


Mariana França
(A imagem foi selecionada pela autora da carta)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pra não dizer que não falei das letras...




Tô te escrevendo pra dizer... Mas não disse nada ... Não direi nada. Puro niilismo, quero ser niilista, agora que aprendi essa palavra ninguém tira ela da minha boca. Nada vezes nada, jusqu’à jamais forever.
Agora disse, falou que não falaria, mas disse sem medo, escreveu SOU UM HOMEM de PALAVRA, palavra por palavra: língua, quero me enrolar em você, rolar pelos lençóis macios da cama desarrumada.
Ouve ele, LINGUA CURTA, INCULTA E BELA E FEIA E MALDITA, poderia ser bendita, ou mal falada. UMAzinha.... Só dá UMAzinha...
Proposta indecente! mas e daí:

viva os epicuristas e a retomada do prazer: eu quero ser a Lady Gaga! Madona já é demodê! Quero ser símbolo Sexual casual. Adoro símbolos desenhados nos outdoors. Grandes.., todo mundo vê. Quero, Mas não posso! Desejo! Quero muito!
A língua é um enigma!!!! Sempre foi!
Não foi isso que pretendi não dizer ou ouvir; Desenho letras no papel.
Mas não vou dizer! Vergonha? Não! Não gosto de escrever, isso não me atrai. Sou um homem de letras, sem letras. Por isso é que desenho esta carta com symbolos que só estão no meu inconsciente vergonhoso. Você me entende?
Ora, prezada destinatária ele quer te convencer, que não escreve uma carta pra você. Eu sou só metalinguagem, mais meta que linguagem... Ele desenha letras? Não! Uma Pinóia Maldita! Ele te escreve, mal-escrita, malquista. Ele quer ser seu CONSOLO, bem sólido já que língua que se preste, mesmo curta e inculta precisa do CONSOLO. E eu observo, como os mesmos olhos de Capitu (mais pra capetu).
Eu Amo o meu remetente.
A língua é um enigma!!!! Sempre foi!
Primeira tentativa:

Meu amor, li como você é diferente da francesa, as vezes arrisco um olho pra chinesa (Viva a globalização), mas é você que prefiro, minha bigoduda tupinambá , com um cá lá na terra dos Bundos, (ora que quadril!) e esse sotaque macarrônico que me dá vontade de comer hambúrguer...
O que foi que pensou essa preconceituosa? O que você pensou prezada ( que é mesmo prezada) destinatária, somos dois que escrevemos pra você tão POP...(mas ele do que eu – sou só metalinguagem! Ouviu? METALINGUAGEM. O que disse?
EU QUERO DIZER MENAS, MAS NÃO SEI SOLETRAR! VIVO NO MUNDO DA SOLETRAÇÃO SEM SENTIDO! ME QUEREM APENAS NAS LETRAS VAZIAS. NÃO SOU UM CONJUNTO DE REGRAS VAZIAS.
Azar o seu
Não tem mais tentativa...
Volto a desenhar, não escrevo. Desenho symbolos, nunca mais te escrevo, espero que morra: por fora bela viola, por dentro prisão bolorenta.

Ele foi.

Fui.

Não tem beijo.


(Mônica dos Santos)
(Ilustração: fragmento de obra de Arthur Bispo do Rosário)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Teoria do caos




Querida Adelia,
 
Eu queria muito ter comparecido na última quinta-feira, mas às vezes acontecem coisas inexplicáveis que mudam nosso destino.
 
É curioso como algo consegue, repentinamente, parar tudo ao redor. Carros, motos, pessoas, palavras, tudo! Todos são afetados, uns mais e outros menos. Mas todos acabam ficando suspensos, mesmo que por um flash de um segundo. Enquanto para mim, um segundo foi como um salto de bungee jumping em câmera lenta.
 
Fora os arranhões e hematomas que começavam a se desenhar, tudo estava bem. Então tratei de recolher os rascunhos, Gilles, Jair, canetas, Lipovetsky, e pensamentos que se espalharam no chão, na tentativa de manter algum controle sobre tudo aquilo e não perder nada. Mas a esta altura, algo já havia sido perdido.
 
Um buraco no chão e destinos alterados. Alguns se atrasaram um pouco para seus compromissos. Outros não compareceram. Alguns mudaram seus caminhos. Outros seguiram adiante. Alguns pararam para socorrer uma moça caída no chão.
 
Você está bem, moça? (É claro que não). Me conta o que aconteceu, coração? Eu estou bem, estou ótima, nada me aconteceu. E a moto? Não tão bem quanto eu. Consegue voltar para a casa? (hunf...) Consigo!

(Carina Freitas)
(A imagem foi escolhida pela autora)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Tempus fugit




Claudio!!
Quanto tempo não paro para pensar a vida, tomar um café e olhar nos olhos das pessoas!
"O tempo é a moeda da vida"
Definitivamente esse mundo ta perdido. Ando tão cansada desse ir e vir. Mas ao mesmo tempo tem tanta coisa para ver e olhar, aprender e absorver que me sinto uma grande esponja, orgânica tá?!, mas esponja.
O mundo ta perdido de tanta informação presente, veja, se isso fosse lá atrás como dizia minha tia Angelina, a gente jamais ia escrever email pro amigo e sim as cartas floreadas, cheias de mesuras, decalques de flores e perfumes e entrecortados comentários por lágrimas de emoção, Bico de pena e letra trabalhada, ou mesmo de caneta bic né? Mas hoje um apertar de botão resolve nosso problema rapidinho.
Pensando nisso tudo ao invés de mandar email, eu vou te escrever e enviar a carta, mas lamento não abro mão do digitar. Mesmo porque aqui tem corretor automático e é ótimo. Uso até o papel reciclado, se não acabou...
Vou aproveitar e te contar algumas coisas, tomara que você tenha tempo pra ler. Porque o tempo voa!!

"O tempo é a moeda da vida"

Estava observando as vitrines das ruas e percebi que hoje não se vende mais roupa, sapato, aliás to tão sem roupa!!! Não ria é a pura verdade...Acho que é o mal do século.
Se vende conceito ou marca de manada, ops, marca de grupo. Você vê né nem todo mundo valoriza os trabalhos manuais, “paraqueéquevouaprender” o tal ponto ajour de bordado se a maquina chinesa faz... e olha que eu faço um milhão de coisas ao mesmo tempo, mas realmente ta tudo muito mudado. Eu olho essas vitrines lindas e cheias de glamour por onde passo, mesmo com o calor infernal que anda fazendo, o glamour continua e ai a gente segue a tal propaganda e compra o que não precisa, do tamanho que não usa, para usar onde não vai e pagar com o que não tem... eu fico embasbacada, outra palavra da minha tia, mas é verdade, a gente supre uma necessidade que nem sabia que possuía. É como ter o micro computador que veio pra resolver problemas que antes não sabíamos que teríamos. Uma coisa bem maluca essa.
Às vezes eu penso que minha alma deveria ser imoral, seria mais leve e limpa, pois o tempo voa tanto e temos que ser rápidos, dar respostas rápidas, bem estruturadas, perfeitas, perguntas ousadas, analises mercadológicas impecáveis, sínteses incríveis sobre a superficialidade da jaca. Quase um pacto demoníaco, com as forças forjadas da sociedade.
Que se dane a jaca, quero mais andar descalça e com a calça desbotada e mandar todo mundo pro raio que os parta. A imoralidade me permitiria fazer só o que realmente é importante pra minha alma, pro meu espírito evolucionar, não consigo acreditar que o mundo está perdido, eu preciso acreditar em algo, além do desvalor, do superficial, da falta de aprofundamento nas coisas, essa limpeza ética e não étnica que o mundo encara com medo e receio, pois tem que mudar as estruturas engessadas que construiu.
Claudio,
O mundo esta perdido, e eu resolvi achá-lo.
O que você acha disso?
Eu quero essa imoralidade humanamente possível, pois sei que há falta disso no tempero dos novos tempos.
"O tempo é a moeda da vida"

A imoralidade aqui não como falta de moral ou ética, como entendida pelo ser humano que le caras...rs mas sim aquela que rompe padrões sem sair por ai contando que o fez, é atingir uma maturidade de alma e não de razão, ou cérebro.
E o tempo tem passado rápido, por que o eixo da terra alinhou, porque a musica do radio parou, porque o Raul Seixas morreu, (o Renato, a Cassia, o Cazuza...)o mundo ta perdido porque falta firmeza no caráter, falta equilíbrio nos modos, falta ser mais e ter menos, mas não quero que essa carta seja algo pesado, que sou contra a matéria e tal, só penso que poderíamos equilibrar mais os mundos dentro, para que isso acontecesse fora.
Creio que é sinal dos tempos, mas minha intolerância se tornou zero com aquilo que não mais acredito e que não faz mais sentido para o que carregamos dentro da gente.
Mas olha isso tudo eu penso aqui na frente da vitrine cristalina, mas o que quero mesmo te dizer é que dentro de uma camiseta branca limpa, uma calça desbotada, um calçado confortável te convido para um café com bobagem ou bolinho (você escolhe) para gente sentar num parque e olhar nos olhos das pessoas.
O mundo não esta perdido não. Nós é que deixamos de dar atenção aos atos que nutrem essa maravilhoso Ecosistema que habitamos. E ai quando marcamos o cafezinho, pode ser chá também viu??
Pausar a vida com intenção definida é alimentar nossa alma, seja ela virtuosa ou não, infinita ou não, poderosa ou não, sábia ou em ascensão ... estamos aqui de passagem e a efemeridade ilusória, pode ser sim, completada com poesia.
Um mundo de alegrias nos espera também lá fora, quem procura acha...
"O tempo é a moeda da vida"

Te espero pro café, se não quiser responder a carta, pode ligar viu, apesar de tudo ao redor, sou adepta da tecnologia básica: 92 76.XX XX
Beijos e suaves sonhos,
Ariel ...

(Elaine Perli Bombicini)
(Foto da autora)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Fitness




OI Jú! Tudo bem como vc? Espero que sim =]

Como andam as coisas por ai? Novidades?
Bom eu estou aqui, numa correia danada, só pra variar né! (rs)
Mas quando chega o final de semana a gente acaba descansando, ou pelo menos tentando. E foi assim o meu!
Pra mim, final de semana começa na sexta feira à noite, onde pensamos que depois do horário comercial tudo vira festa, mas comigo não foi bem assim. Quando deu 6:00 hs da tarde arrumei minhas coisas pra ir pra casa, no caminho peguei o maior transito, nossa tudo parado, se eu tivesse ido de pedalinho teria chegado mais rápido.
Chegando em casa, corri pra academia cuidar do corpinho, puxar um peso ali, pedalar aqui, uma aula de boxe e uns polichinelos e vamos lá não podemos desistir, afinal ter um corpinho igual da Gisele Bündchen foi tudo que eu sempre quis!
Ai Jú...mas acho q acabei me empolgando. Na hora dos polichinelos comecei a não me sentir muito bem, aí quando chegou nas abdominais, já não estava entendendo mais nada, minhas pernas tremiam, minha visão foi ficando turva, de repente apaguei, fiquei estirada naquele cochãozinho fedido de suor dos outros, quando comecei a tentar entender o que estava acontecendo, já tinha um instrutor ¾ segurando minha cabeça, um outro meus pés, uma mulher de branco medindo meu pulso e um monte de gente me olhando e falando, falando...:
- Olha gente, ela está voltando... Ela voltou, ela voltou!
Que vergooooonhaaaa!!!
Sem contar os professores perguntando:
- Vc comeu? Se alimentou direito? Está quanto tempo sem comer?
Na verdade, não tinha comido mesmo, mas não foi paranóia de dieta, é que não deu tempo, vc sabe como é né!?
Acabei voltando pra casa e ainda tomando um puxãozinho de orelha da mamãe.
Acho q vou ficar uns meses sem ir pra academia, quem sabe o pessoal esquece, vai que colocam um filminho meu no You Tube, ai credo, não quero ficar famosa assim, já pensou?
Bom, depois de tudo isso, fui pra casa do Pedro, chegando lá achei que ele já iria estar pronto, tomado banho, cheiroso, liiiindo me esperando pra sairmos, qui nada, tava lá jogando vídeo game, vc acredita nessa idade e ele ainda acha normal!
No final das contas resolvemos jantar com uns amigos... no Mc Donald’s

Ah! Mas depois te conto o resto do meu final de semana.
Agora quero saber de vc, mande notícias, me conta tudo hem!
To morrendo de saudades.

Beijossssss
Valentina
18/04/2010

PS: Até queria ter escrito esta carta à mão, como no tempo da vovó, mas computador é tão mais fácil, arruma tudo pra gente!

(Nágila Sanches)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sorte no amor




Mariana

eu ti amo. Descobri nas cartas. Não no tal de tarô mas no poquer on line. Tava de bobeira num bar jogando com uns mexicanos e tava rapando os gringo mas um filho da puta de guadalajara blefou forte e me quebrou as pernas. Vc curte jogo de azar? Entra no pokerstar.com, se cadastra e vai pras cabeça. Tem mulher que é rata, não perde não. Mas lá na Lan, na hora que minhas fichas sumiram na mao do chicano eu já tava de olho na pág de uma ex-mina do face. Na verdade não rolou namoro, saí umas vezes. Bom, como não quero segredo com vc, era só sexo, tipo trabalho voluntário, a mina não era gata, feinha mesmo. A gente bebia vodca e começava a pegação. To ligado que é muito íntimo esse passado mas se a gente guardar segredo um do outro não vale né? Não vou falar quem é, mas é uma amiga sua. Tava vendo os amigos dela e pá! dei de cara com você pela primeira vez. O que eu quero dizer nessas mal traçadas linhas é: bateu Amor a 1ª vista. Vc acredita nessas bobagens? Nem eu. Mas aquela sua foto mandava umas mensagens subliminar (é assim que se escreve?) pro meu cérebro. Ou era meu cérebro que mandava pra sua foto, nem sei a ordem. Parecia letreiro no supermercado. Em vez de “OFERTA”, tava escrito “É ESSA!”
Dei google, wiki, plaxo, par perfeito e não sei onde, mas tava lá: mariana, rua siqueira campos. Tem coisas que só a internet faz pela gente. Mas eu sou meio hacker mesmo. Ia te achar no fim do mundo, lá na arábia ou no cáucaso, que é na rússia. Mari, sou das antigas Nem te adicionei pq queria te conhecer pessoalmente. To ligado, é coisa dos tempos do rayban mas a tua foto parecia um lance do nirvana... É essa! Isso foi 1 semana atrás. Gosto de surpreender as pessoas. Todo mundo diz que sou cheio de novidade é que eu sou eclético, cada hora invento uma. E fiz que nem os marinheiros, escrevi uma carta pra vc. É essa de mal traçadas linhas. Eu ti amo. Bateu no peito a vontade de te dizer umas poesias no pé do ouvido. Já te falei que sou poeta? Camarada meu diz que sou artista. É que gosto de tudo, leio um monte de coisa na internet. To sempre na superinteressante.com.br. A vida é uma pág em branco pra gente escrever o que quiser, sem stress. Eu escrevo umas poesia. Anota aí poetadasruas@gmail.co,. E me fala o que achou da carta. Sou seu always. I love u.

(Alessandro Toller)