(Beatriz Milhazes - O magico - 2001 188 x 298 cm)
_ (suspirando e liberando sua forte voz) Talvez o que eu tenha semeado, não brote agora. O céu está escuro, escuro e com isso sem o calor que é necessário, as pequenas sementes se encolhem bem apertadinhas, só com muito calor algo se modifica.
_ Fazer uma fogueira? (risada gostosa) Não, não funcionaria. O calor deve brotar de dentro, sabe? Assim meio no natural, com suavidade. Nem pensar em algo artificial, não daria certo.
_ Poderia, poderia sim aquecer alguns litros de água para aconchegar, mas com isso apenas e tão somente estaríamos engordando as sementes, inchando seus corpinhos miúdos e com isso elas perderiam a força para romper suas cascas. Não é aconselhado. Naturalmente é a palavra.
No início essa palavra era o verbo, depois o verbo foi ficando mais propenso a escatologia e rimos muito com isso, porque taramelavam sem parar, inclusive palavras de baixo calão. Mas agora é mais tranqüilo, há tempo para completar o processo e nesse tempo o que brotará, já traz em si um pouco do antigo e do antigo, o silêncio.
_ Sim, nutrir, esse é um passo acertado. Acarinhar, nutrir, conversar com cada pedacinho (gesticulando com a mão), com cada célula. Isso ajuda. Aliás só esse é o caminho, formação.
Fico olhando esse horizonte mínimo e esperando que algo toque o sino, porque ai desperta do silêncio e vai a tona para olhar para o sol. Finalmente brotará.
_ Mas não tenha dúvida, nessa hora é o mais bonito de ver. Os raios de sol se dobram e abrem-se como uma flor de bronze, para receber o novo integrante. Veremos o que vai acontecer, é só acompanhar de pertinho. Isso nós podemos fazer.
_ não! Não! Não! Esse aqui já tem endereço certo, terá castelo de vidro de dois andares, muita gente para servi-lo, mas também será um grande servidor.
_ Mas é claro que terá dom para as artes! Na música será reconhecido. Terá inspirações grandiosas. Nem tudo serão flores, deverá aprender com o simples e com as coisas complexas, será inteligente também. Mas para isso temos que fazer o nosso melhor. Concentração por favor!
_ Vamos lá, comigo, regando, isso, assim mesmo (pausa) regue com luzes do arco íris e com as grandes gotas prateadas, agora aos poucos, dilua, isso mesmo! Não encharque muito, isso, delicadamente. O aroma deverá estar para aproximar e não para afastar. Secando no vento, que maravilha! (pausa)
_ Prontinho!! Seco e brilhante. Agora essa idéia está pronta e é só o tempo dos pais dele se conhecerem e ele nascerá num lindo dia de primavera.
_ Não, você não pode ir junto! Não mesmo. (boas risadas)
Afinal a realeza tem que ter uma certa privacidade.
_ freezer com granizo? Não, não necessita de refrigeração, para guardar é só afofar na caixa com a seda azul e apagar a luz. ok?
Caros ouvintes e telespectadores, o nosso obrigado pela audiência tão numerosa e amanhã demonstraremos como criar frutas sem caroço. Não percam. E com vocês os nossos comerciais.
(Som de cítaras ao entrar o comercial de Nuvens em pó).
(Texto de fantasia criado por Elaine Perli Bombicini, inspirado em tela homônima de Beatriz Milhazes)
(Texto de fantasia criado por Elaine Perli Bombicini, inspirado em tela homônima de Beatriz Milhazes)
Elaine escreveu essa história de longe. Enquanto nos encontrávamos para analisar a obra de Milhazes e elaborar um texto maravilhoso, ela estava no Chile. Curiosamente isso virou, de um certo modo, um pano de fundo pra sua criação. As fadas-jardineiras-cientistas também plantam as sementes que, bem cuidadas e brotadas, serão lançadas longe dali para florescer.
ResponderExcluirBem,o texto que Elaine plantou e cuidou em solo chileno foi lançado no blog e aguarda comentários que o façam crescer e vir à luz em sua plena forma.
Quem se habilita?
É interessante a impressão que causa o texto que começa direto em um diálogo, como de tudo acontecesse "magicamente"(uma sensação lacunar), cria uma expectativa de algo que será no futuro descortinado. A idéia de um programa de TV foi ótima,abre possibilidade de estrelamento para outras histórias, pessoas que assistem ou que fazem o programa em uma pseudo vida real... ou ainda para uma meta-narrativa. Fiquei imaginando como seria um programa noticiário, como notícias reais poderiam ser tratadas em fantasia...
ResponderExcluirum abraço
Adriano
Adélia,
ResponderExcluiresse pano de fundo rendeu visagens.
Sair da gente e olhar o mundo por outro angulo é "recompreender-se".
Acho que esses nossos textos são um pouco isso, ver-se através da obra do outro.
foi prazeiroso fazê-lo.
Beijos meus,
Elaine
Oi Adriano, obrigado pelo retorno. Sempre importante suas colocações.
ResponderExcluirEsse era o objetivo, um diálogo sem réplica na verdade, mas ai foi mudando e acabou nisso...rs
A idéia desse programa cósmico, algo em outra dimensão é algo que tenho em mente a tempos, esse com certeza foi um primeiro esboço. aos poucos enveredo por algo serio.
grande beijo e um super abraço.
saudades das conversas pré encontros.
Elaine