segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ateliê de Dramaturgia da UFU


Convidada pela professora Vilma Campos dos Santos Leite, coordenadora do Curso de Teatro da Universidade Federal de Uberlândia, ministrei uma palestra junto ao "Programa Ateliê em Artes Cênicas: produção, extensão e difusão cultural", dirigido pelo professor Fernando Aleixo. O tema da palestra foi o projeto dos Ateliês de Dramaturgia o que permitiu, além da abordagem teórica, uma vivência de escrita com o público, que ora compartilho.

Por tratar-se de uma universidade mineira, busquei entre os artistas visuais da região algum que pudesse basear o nosso trabalho prático e a escolha recaiu sobre Maria do Carmo Freitas. Natural de Belo Horizonte, com mestrado nos Estados Unidos, a professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais é gravurista. Sobre a autora e sua obra, transcrevemos um texto de Walter Sebastião:


Pode-se dizer que o gráfico é o motivo da gravura de Maria do Carmo Freitas. O mundo que ela inventa é o da escrita e reescrita permanente no e do mundo (grafar/gravar, parece lembrar o tempo todo a artista). Para tanto elege um motivo: o texto como imagem. E convoca teóricos da literatura e os escritores para discutir (na verdade constituir) uma poética que, operando com matérias papéis, caligrafias, marcas, impressos, imagens, etc. investiga também suas figurações alegóricas: espaços, memórias, rasuras, culturas, ilustrações. A ação não tem sido na direção de uma delimitação da essência do gráfico, e sim na perspectiva de construir situações em que o gráfico está imbricado de modo literal, alusivo, biográfico, histórico, etc.1


Maria do Carmo Freitas - S/título - 1998
colagem, folha de ouro - 56,5x76cm
(Foto: Adriana Moura)

A obra acima foi  escolhida para a apreciação sem que os participantes soubessem o título ou a autoria. É curioso notar o quanto os dados levantados equivalem ao pretendido pela artista em seu trabalho: 

Sertão, erosão, secura, aridez. Terra, cerâmica, coisas desgastadas pelo tempo, passagem de tempo, ancestralidades.
Deterioração, diferentes texturas, retalhos, fragmentação, camadas sobrepostas, descobertas.
Cadernos antigos, memórias, sagradas escrituras. Pergaminhos, cheiro de coisa velha.
Som de pedra sendo entalhada, de metal, de vento.

Em seguida, foi proposto que os interessados planejassem e escrevessem uma carta, levando em conta alguns elementos da apreciação. O resultado poderá ser conferido nas próximas postagens.


A artista em seu ateliê
(Foto: Adriana Moura)


(Agradeço o convite, a recepção e participação calorosa do grupo e também à paciência  em esperar pelas postagens!)

1SEBASTIÃO, Walter. Apresentação. In: FREITAS, Maria do Carmo. Maria do Carmo Freitas: depoimento. Belo Horizonte : Com/arte, 2004. p. 4.
As imagens utilizadas nesta postagem encontram-se no livro acima citado)

2 comentários:

  1. Elaine Perli Bombicini10 de dezembro de 2012 às 15:31

    Puxa...puxa...puxa!!! que delícia de boa nova!
    Fiquei tão feliz "Papel fere pedra", que nem te conto. Soube esses dias que lá pro lado das Minas Gerais, um pessoal olhando uma colagem duma tal de Maria do Carmo, artista fina viu? e o povo começou a viajar nas idéias! Saiu cada coisa: teve gente que disse que tudo aquilo cheirava coisinha antiga, lembrava papel fino, fino aqui dizendo que é coisa mais chic, lembrava papel de pergaminho, onde se escreviam palavras importantes, palavras que ficassem ecoando na humanidade, documentos para uma eternidade. Ai fiquei feliz com isso sabe? Porque vendo tudo isso sendo feito eu penso que os blogs de hoje são como esses pergaminhos, onde registramos nossas idéias querendo acreditar que elas fiquem para eternidade. Seria bom né, mas não vai ter cheiro, pode ter sensação de textura, mas não vou poder sentir as marcas da caneta ou lápis, nem as cócegas na ponta dos dedos pelo papel irregular. Mas as palavras...essas coisas estranhas que somam as letras de nossas entranhas e dão ao nascer do texto, a nossa pater ou mater nidade. Curioso isso né? Por isso continuo crendo que escrita sempre haverá, telepatia também é claro, mas leitores sempre haverão. E mesmo sem poder concretamente arrastar essa papelada cheia de letra, para lá e para cá, vou poder lembrar que de uma idéia surgiu um quadro, que virou colagem, que virou olhar, que virou idéia, que virou decoupagem de temas, que virou carta, que virou texto e eu de penetra faço isso tudo virar história e tendo você aqui "seo" "papel fere pedra" como testemunho de que o ateliê tá dando filhotes. E os leitores precisam de histórias (suspiro)! E o ateliê ... que já tem herança genética lá em Minas, ai que eu fiquei tão feliz com isso sabe? Esse "aprender" a ler nas entrelinhas do que nos cerca e afinar o olhar e todo olhar afinado quer produzir a boa nova, quer mudar o mundo. Porque o mundo de estático não tem nadica de nada. O mundo é sempre um movimento e tenho aqui comigo que as letras que se sacodem, querem mais é contar essas histórias, por isso que os ateliês tem que brotar, tem que surgir assim que nemm estalo de bombinha no São João. Virar pedra de arrimo e seguir no mundo do imaginário, indo e vindo parindo idéias e escrevendo cartas. Fico por aqui, feliz de observar mais isso. "Seo" "Papel.." mande lembranças para família e hora dessas marcar um cafezinho c'o povo de Minas aqui por essas paragens! beijo grande para todos que por aqui passarem.

    Elaine Perli Bombicini

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  2. O seu Papelferepedra agradece a contribuição, querida. Foi realmente uma experiencia gratificante ver tanta gente escrevendo em dez minutos, sem crises, sem dramas. E analisar os resultados de modo pertinente e criativo. Também acho que a escrita não vai acabar, não! Não pode!
    Senão, como vamos ler coisas bonitas como as que voce acabou de escrever?
    Beijos e queijos!

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