sexta-feira, 2 de julho de 2010

“Autora dá a receita de um bom drama”




Este é o subtítulo de uma entrevista publicada no caderno TV do jornal O Estado de S. Paulo em 13 de junho passado.


A autora em questão é a roteirista norte americana Liz Tigelaar, responsável pela criação da série Life UneXpected e de episódios das séries Brothers & Sisters, Dawson's Creek, American Dreams, entre outros.

Ao final da entrevista a repórter pergunta o que um bom drama deve ter para ser bem-sucedido. Liz responde:


o elemento mais básico é se importar e cuidar dos personagens. Eles têm de querer muito algo e têm de ter defeitos e obstáculos que os impeçam de alcançar o que querem. A maioria das séries em que trabalhei tinha uma família ou um grupo de amigos que era como uma família e acho que isso faz um drama de sucesso. Fora os triângulos amorosos... Mas as pessoas precisam se identificar com os personagens, criar uma conexão, acompanhar os obstáculos e as superações.”


Ao afirmar isso com a segurança de quem alcança muitos pontos de audiência, Liz reproduz o que as poéticas determinam há séculos quando se trata de teatro dramático, novela, cinema comercial. 1) Relações dramáticas fortes. A primeira delas é entre amantes, pessoas apaixonadas. Em seguida vêm as relações familiares, depois os amigos, os inimigos, até chegar aos indiferentes – que, como o nome já diz, deve causar pouco ibope.

2) Personagens definidos, que causem empatia. Por empatia podemos entender simpatia ou antipatia. A esse rol pertencem aqueles vilões que amamos odiar, os heróis com quem nos identificamos, as heroínas abdicadas a quem admiramos, o tolo por quem sentimos compaixão, as crianças que já têm duras provas a enfrentar, e até aquele cachorro fiel, não importa se bobo ou esperto.

3) Vontades firmes. Nosso papel de espectadores é acompanhar a realização do desejo do personagem. Numa peça ou filme isso pode levar até duas horas. Numa novela pode levar meses. As produções mais modernas optam por desejos realizáveis a curto prazo, inspiradas nas séries. No máximo uma semana. Mas, se repararmos bem, um desejo central acompanha praticamente a novela toda.

4) Obstáculos, conflitos que estejam à altura da força e da valentia do personagem, à altura da força do seu desejo e do seu merecimento. Esses obstáculos podem ser internos ou externos. Se internos o medo, a covardia, um trauma, um defeito. Se externo a moral, a sociedade, o Estado, a crença, o inimigo, o rival. Para a superação desses obstáculos o personagem conta com o grupo familiar, os amigos, mas há casos em que luta sozinho, o que o torna mais valoroso. Quando supera, ainda que temporariamente, as adversidades, o público vibra. E quanto mais ele sofre, mais a audiência suspira, verte lágrimas e corre pra acompanhar o próximo capítulo.


Bem, as peças que lemos durante o Ciclo e os textos que estudamos foram na contramão dessas fórmulas.


Um espaço aqui para a reflexão....................


3 comentários:

  1. Esta série passa no canal Liv, tv a cabo.

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  2. Bom, eu tenho que concordar com a autora em alguns pontos... Assisto Brothers & Sisters regularmente (está na 4ª. Temporada), não perco um capítulo e funciona como uma novela para mim. A estrutura é exatamente esta descrita acima, e quando você pensa que determinado núcleo vai resolver um problema, uma personagem surge com um novo dilema que vai dilacerar o coração de toda a família e, inevitavelmente, o nosso também. Torcemos e vibramos junto. O povo gosta disso. Eu gosto disso também.
    A empatia é tamanha que muitas vezes, quando acaba o episódio, meu marido e eu discutimos sobre o que aconteceu, e como as personagens deveriam ter agido segundo nosso entendimento, e as vezes ainda comparamos as personagens a nós mesmos ou a pessoas que conhecemos. É como se a ficção nos auxiliasse a compreender a realidade.
    E essa é uma posição deliciosa, porém muito comoda, na qual nos encontramos há séculos. Essa é a receita do drama que encontramos na tv e nos teatros e da qual ainda buscamos encenar e assistir.
    Um ponto que me chamou atenção foi a questão da “vontade firme”. Acho que admiramos e nos envolvemos com estas personagens muito por causa desta vontade. Recentemente aprendi a sutil diferença entre desejo e vontade. Podemos desejar muita coisa, mas a vontade envolve atitudes, definições e metas a serem alcançadas. Fiquei pensando o quanto nos projetamos nestes personagens que tem vontades firmes e alcançam resultados, já que na tela os anos passam em minutos, muito diferente da nossa própria vida.
    Acho que a vida se parece mais com os textos que lemos no ciclo. Será então um contraponto entre a vida idealizada e a crueza da vida? Vou pensar mais sobre isso.

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  3. Oi Carina,
    sinto algo muito parecido com o que voce descreveu. Gostei da forma como relatou isso. Gosto desses seriados, e às vezes o assisto para não ter que pensar tanto. Mas isso me leva a outro ponto, que há público para todas as possibilidades de criação e uma boa produção ajuda muito. Mas enquanto houver a necessidade de se pensar na vida ou analisar a crueza desta, ou ainda ver as vontades e atitudes fortes cmo exemplo pra gente, esse tipo de seriado e texto continuaram existindo, até que sutilmente um dos nossos os substituam. Às vezes penso que tudo ta contido e misturado, e aos poucos conforme vamos separando os limites novidades aparecem de forma explicita.

    Como voce sabiamente colocou: Vou pensar mais sobre isso.

    beijares e abraçares, Elaine

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