sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Da pouca paciência



Sem paciência para recortar a lona - ou para remendá-la. Relação com o tempo: não há tempo a perder.
Como acontece com um cobertor pequeno, que cobre os pés ou cobre a cabeça, não houve tecido suficiente pra remendar todos os buracos.
Sem paciência para recortar com tesoura, no capricho, eu rasgo. Pressa, rapidez. Faca? Estilete? O formato, o todo, lembra um revólver.
Os buracos parecem brancos filtros de cigarro.
A presença dos fios denuncia o não-acabado. Um corte que não é exato: é mais urgente. O gesto importa mais que o efeito, o corte.
Pedaços retirados, pedaços colocados. O grande vazio à esquerda se repartiu e cobre possíveis ex-buracos do conjunto.
Ou são dobras - como janelas abertas. Corações malogrados. O grande vazio chama mais atenção que os pequenos?
As palavras estão a lápis. Provisório? Esboço? Pensamento?
Lona amarela. Lona de caminhoneiro. Amarela na frente e no verso. Tampa o destampado.

(Algumas de nossas leituras da obra, que darão norte para as propostas de escrita)

2 comentários:

  1. Tantas indagações, e essa falta de tempo para análises mais profundas...
    Mas "Da pouca paciência" do Leonilson, ativa nosso imaginário e a criação corre solta como cavalos nas pradarias. É uma alegre sensação, adentrar nas visualidades, que talvez Leonilson nem tenha intuído. Sigo com rumo indefinido, apenas apreciando e interagindo com a paisagem.

    O processo nos dá o suporte!

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  2. Que texto bom de ler... Penso em como terá sido o processo real do artista na elaboração da obra. Será apenas uma provocação? Indagações pertinentes!

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