sábado, 2 de outubro de 2010

Porque Leonilson



Nossa proposta é desenvolver uma escrita que nasça da interlocução com imagens. Poderia ser qualquer estímulo. De tudo pode nascer uma impressão, uma ideia, um texto. No entanto, optamos pelo estímulo que parte do contato com a arte contemporânea, sua interpretação, “deglutição”, apropriação e consequente recriação. Desta vez numa outra tela, a do micro, num outro papel, o pautado. Novos pontos, linhas, planos, formas, tons traçados com palavras. Palavras no presente, do presente, para o presente.

Da infinidade de nomes possíveis para esta interlocução, um delimitador importante foi a questão da nacionalidade. Refletir sobre o tratamento dado pelos artistas brasileiros à temática contemporânea nos pareceu mais apropriado a um projeto que pretende estimular a descoberta do caminho da escrita de cada participante.

E no Brasil, que nome escolher? Felizmente são tantos e tão significativos.
Depois de muita pesquisa nossa escolha recaiu sobre Leonilson (José Leonilson Bezerra Dias – Ceará, 1957 – São Paulo, 1993), de carreira breve, porém suficiente para deixar marcado um estilo e uma visão de mundo. Em sua obra pulsa o permanente diálogo com o presente histórico, social, cultural, que ele filtra de maneira crítica e poética.





Leonilson foi escolhido também devido ao perfil do nosso ateliê.
Ele fez parte da chamada “Geração 80” das artes plásticas brasileiras. Em nosso grupo, diversos participantes tem pesquisas realizadas sobre esse período.

Trabalhamos, inicialmente, textos em pequenos formatos. Boa parte da obra de Leonilson foi realizada em tamanho reduzido. Síntese, concisão, precisão, objetividade.

Aspiramos a palavra que nasce da imagem, ele trabalhou como poucos a convivência entre as duas.

A utilização de conteúdos autobiográficos tem permeado nossas discussões em sala, e foram amplamente usados pelo artista em sua obra.

Outro tema discutido no ateliê é a apropriação - Leonilson volta e meia se apropriava de referências alheias, textuais ou imagéticas. Juntamente com as seriações e repetições, recorrentes em seus trabalhos, estes são elementos constantes na escrita contemporânea.

Nossas atividades com os "grudados" (protocolos visuais) lembram muitas vezes, as propostas do artista.

Cadernos de anotações ou mesmo cadernos artísticos também são práticas de alguns componentes do grupo.

Sua revisão do trabalho artesanal, da costura, do bordado, das aplicações, das colagens tem também uma forte relação com a manipulação da palavra, seu trabalho compositivo.


(Voilà mon coeur - frente e verso)

Há muitos outros motivos para esta escolha. Mas é preciso deixar que cada um descubra os seus próprios, a partir do contato com a crítica, a vida e a obra do artista, e com seu tempo – que também é o nosso.

(Adélia Nicolete)

4 comentários:

  1. Ahh estava no aguardo da postagem! Retomei todos os materiais que tenho dele e me diverti revendo...
    Leonilson é um dos meus favoritos. Em especial por suas mínimas máximas (como eu chamo) as mensagens inseridas em seus contextos plásticos.
    Isso sempre me agradou e muito. Acompanhei isso de perto durante anos (como também, pelos bordados de Arthur Bispo do Rosário, mas isso é outro tema futuro).
    Essa composição que Leonilson obtem com as artes visuais, com as letras é um dos focos que eu, particularmente previlegio. gosto dessa junção, se completam. Cordelizar a alma visual!
    Ele as une com equilíbrio preciso.
    É como uma estampa que quero colada em mim.
    Diz tanto com muito pouco.
    E isso, como na filosofia, só ocorre com muito treino e pensar.
    meu motivo é simples:
    Leonilson é um dos Grandes.


    meus abraços nesse dia de nuvens espessas, Elaine

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  2. essa foto do cara... eu tinha escolhido ela hoje de manhã(antes de ver o blog), pra colocar na minha pasta de coisas que eu tô juntando... tenho outras fotos. do cazuza, de gente dentro de caixas. de "sanguinho"...(uow!) vi algumas coisas dele-leonilson. deu vontade de ver mais. acho que isso me interessa. esse cruzamento de idéias. de coisas que ficaram sendo. isso interessa...

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  3. Adriano Galego Geraldo3 de outubro de 2010 às 18:37

    A primeira vez que tive contato com a obra de Leonilson foi na Faculdade, podia ter me aprofundado mais em sua obra mas fiquei no encantamento do primeiro olhar, apaixonado sem entender... Sempre fiz uma relação(nada racional) entre Leonilson e Paulo Leminsk, entre os dois há o "jogo" com palavras, e cada um(a seu modo)é criador de imagens. Os dois são personagens que viveram intensamente seu tempo e o incorporaram em suas obras que também são suas biografias. Bem vindo Leonilson!

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  4. se todo mofo do mundo
    ali presente
    os embrulhos de natal, o pó
    as paredes pretas
    -o país parou?
    o carnaval, as enchentes
    -o ônibus tá cheio?
    um artista costurando
    as bocas dos outros
    -morreu? tá morto?
    a língua estrangeira
    fome, dinheiro
    -e aí? não consigo ver...
    os desenhos das linhas
    as agulhas dos desenhos
    a mente, mente, mente
    pouco é nada
    nada é o suficiente
    -é. vamos embora.
    a hora foi essa
    e foi até nunca mais parar

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