segunda-feira, 26 de abril de 2010
Uma carta
Bom dia!
Acabei de acordar e preciso correr, pois estou atrasado. Vou tomar banho, café, escovar os dentes. Mas antes vou ver um pouco do programa telecurso, pois está com um tema interessante sobre reciclagem.
Agora sim estou pronto as 07:00Hs, estou indo para Lapa, para fazer um trabalho sobre o teatro francês. Desculpe a letra tremida, mas agora estou no ônibus para o Jabaquara.
Agora são 8:00 Hs. Estou esperando o metrô e é interessante como as necessidades das pessoas são estranhas. Existe ao meu lado duas adolescentes sentadas e estão conversando sobre a necessidade de comprarem um mp5, pois assim poderão ver vídeo. Mas elas estão com um mp4 também acho possível ver vídeo nesse, porque a necessidade de algo potente?
São 8:39 da manhã. Estou na Luz. Está uma verdadeira loucura por aqui; as pessoas não respeitam a faixa amarela, e o metrô que está aqui... (desculpe, é o trem)... não irá sair, mas existem dois jovens aparentando 18 ou 19 A, que insistem em entrar como se quisessem desbravar o mundo mostrando que podem fazer o que ninguém faz. Chegou o meu trem.
8:55, faltam cinco minutos para eu dizer que estou atrasado tenho de correr, pois já estou na Lapa.
10:00 Hs – estou trocando de roupa pois vou fazer uma cena de rua dentro do mercado da Lapa.
013:00 Hs – tenho de voltar correndo para casa, pois tenho médico às 15:00 Hs
02:00 Hs – estou de volta no metrô. Você já ouviu Ana Carolina? É o som que estou ouvindo neste momento, acho relaxante depois de um estresse. Nem comentei de minha cena no mercadão, foi bem legal, rolou até polícia e para médicos de verdade.
14:47 Hs – acabo de chegar em casa exausto, vejo minha cama deste ângulo e me dá vontade de dormir. - vou tomar um danone e comer um pedaço de pizza, à noite como comida.
15:00 Hs – acabo de chegar no médico, estou atrasado ainda tenho de preencher ficha, mesmo sendo conveniado. Mas faz parte da burocracia.
16:00 Hs - acabo o check up. Acho que aparentemente tudo bem.
17:00Hs estou em um estúdio de tatuagem pois preciso marcar horário para ser atendido e saindo às 18:30 hs – preciso ir a São Mateus pegar um livro de um amigo para um trabalho para (amanhã ou) segunda. O rapaz dono do estúdio é músico e ele estava me dizendo que a arte não dá dinheiro por este motivo trabalha em uma empresa, acho que está pensando em desistir.
20:00 Hs – parei no shoopping ( ← nunca lembro se é com dois “o” ou dois “p”) bateu uma fome, enquanto como vou dando uma folheada no livro, tem um trecho interessante que diz “fazer o teatro com verdade”. Mas o que é fazer as coisas até mesmo em nossa vida com verdade? Será que não vivo de verdade? Bem vou pensar nisto.
21:44 – cheguei em casa e preciso ligar para um monte de gente para confirmar um monte de coisas para a amanhã, principalmente horários.
22:35 – agora estou simplesmente exausto e pensando em opções como – ou como ou tomo banho ou vejo TV ou durmo: acho que não me restaram forças pra tudo
23:57 – fiz besteira: sentei na frente da TV cansado e cochilei, vou tomar banho e comer.
00:30 – pronto, liguei um som baixinho e estou pensando no quanto as pessoas correm em seu dia dia. Nem sempre tendo tempo para pensar nelas, em suas necessidades físicas, mentais, psíquicas. Muitas vezes arrumando compromissos para quase 24 Hs por dia e não tem tempo de pensar em si.
Tomei um banho de dez minutos, acho que não dei metade da atenção que o pobre do meu pé que me carregou a todo lado merecia. Pensei hoje em comprar uma calça, mas tenho muitas. Acabo de comer mais pizza.
Será que depois de toda essa busca por coisas consegui mais uma vez me coisificar, ser mais um produto vazio?
01:33 – vou dormir, amanhã tenho que acordar cedo.
Cristiano Dantas
Assinar:
Postar comentários (Atom)
No encontro do dia 15 de abril foi proposto que, sorteado nome e endereço de um colega, cada um dos participantes escrevesse uma carta e a enviasse. O conteúdo, o remetente e o destinatário poderiam ser ficcionais, ou seja, a proposta era criar situações e personagens, enfim, dessa comunicação interpessoal. O objetivo era trabalhar o conteúdo que estávamos tratando naquele momento: o pós-moderno e, como ele abriga contrastes, enviaríamos a carta pelo bom e velho correio.
ResponderExcluirSelecionei, dentre as várias cartas trocadas, esta do Cristiano por me parecer um exemplo carregado de elementos da vida contemporânea. A começar da estrutura: é um tipo de twitter, microblog onde o internauta vai registrando seu cotidiano, suas reflexões e compartilhando com o mundo. Depois a multiplicidade de atividades, divididas em horários, fragmentando o dia e definindo-o como um espaço para se cumprir tarefas.
Estão na carta, escrita a mão, alguns dilemas do nosso tempo. Aliás é ele, o tempo, uma das maiores questões da pós modernidade. Seu uso, seu ritmo, sua compressão.
Outras cartas serão publicadas no Papel Fere Pedra. Outros textos ficcionais ou reflexivos criados nos encontros. Aos poucos nosso blog vai ficando NOSSO, efetivamente.
Cristiano, olha sao tantas coisas a dizer, gosto da forma como olha e enxerga o mundo! Acho que tem uma rapidez de raciocínio que me encanta, e isso dentro dessa linha pós modernista, contempla muita coisa, e dentro da escrita já se nota. Ritmar, marcar, pulsar, tua carta independente de para quem, é uma marcação cerrada do tempo rei sobre a vida louca, louca vida.... vida breve.... (*Gil e Cazuza semprea ao tempo, como um bom vinho, nunca envelhecem...)
ResponderExcluirque levamos sem perceber, uma coisa que me enlouquece é de que tanto temos que fazer, que deixamos de CRIAR, excesso de tarefas que urgem, contra o devaneio criativo... essa sua carta acredite! mexeu comigo e ao rele-la eu percebo que comecei uma evolucao dentro de mim (nao gosto de RPM revolucoes por minuto...rs) eu estou mudando, quero deixar de cumprir tarefas pra alimentar e nutrir minha alma que louca e utópica viaja e quer mais do que simples e só ...passar pelo mundo. Ou meu tempo dobra, ou elimino algumas tarefas... há de se estender os dias!
Era para ser um coment com "teoria", mas nao saiu assim... Acho que estou criandoooooooooo...
Saludos,
Elaine