quarta-feira, 21 de abril de 2010

Gertrude Stein



O teatro contemporâneo deve aos experimentos formais da escritora norte-americana Gertrude Stein (1874-1946) muitos de seus elementos.
Na esteira das rupturas propostas pelo Modernismo no início do século 20, Stein buscou romper com uma série de paradigmas dramáticos, propondo novas abordagens no terreno da linguagem, da noção de tempo, de ritmo, diálogo, ação, gênero e da própria estrutura da peça.

Sua proposta mais conhecida é a chamada “peça paisagem”: encenação que se observa como a um parque ou paisagem, sem os sobressaltos e tensões do drama convencional. Sem os avanços de tempo e as modificações espaciais a peça paisagem propõe um “presente contínuo”, algo difícil de imaginar e mais ainda de concretizar na cena na época em que foi proposta.

O pesquisador e professor alemão Hans-Thies Lehmann (1944) em seu “Teatro pós-dramático”, à página 103, esclarece que “Gertrude Stein não fez mais que transpor para o teatro a lógica artística de seus textos, o princípio do presente contínuo e progressivo de encadeamentos sintáticos e verbais que, como ocorre depois na música minimalista, parecem marcar o passo de modo “estático', mas na verdade são sempre acentuados de maneira nova em variações e modulações sutis. O texto de Stein já é de certo modo a paisagem. Em um grau até então inaudito, emancipa a oração em relação à frase, a palavra em relação à oração, o potencial fonético em relação ao semântico, o som em relação ao sentido”. Sem drama nem história, sem personagens definidos, privilegiando a dimensão sonora, as repetições, e a compreensão do teatro como “poesia cênica integral” - características presentes em um sem número de obras contemporâneas.

A obra de Stein abarcou o teatro, a ficção, a poesia, a crítica e a memória. Não é uma obra fácil de ser lida. Em teatro foram propostas tão radicais que ainda hoje a maioria de seus textos são considerados “impossíveis” de montar, mas influenciaram de tal maneira o encenador americano Bob Wilson (1941) que este chegou a afirmar que a leitura de Gertrude Stein deu a ele a convicção de que poderia fazer teatro.

4 comentários:

  1. esta manha eu tava pensando

    a profa. Silvia Fernandes lancou um livro esta semana que traz analise de diversas pecas - acho que a partir dos anos 90?

    "TEATRALIDADES CONTEMPORANEAS"

    nao vi nem a capa, mas me chamou a atencao na resenha sobre o lancamento, aquilo que a profa. chamou de teatro pastoral, em que a paisagem substitui o drama

    Era o que Stein fazia?

    Bom, o que eu pensava de manha era: com "crise" do drama, o lehmann, teatro pastoral etc, a tendencia eh uma proliferacao de encenadores adaptando obras literarias em detrimento da escolha de textos dramaticos?

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  2. Esse livro da professora Sílvia Fernandes já é leitura obrigatória, Alê. Ainda não li, então não sei em que circunstância ela usou o termo pastoral - que conheço da música, mas que já vi associado, sim, ao teatro de G. Stein (no próprio Lehmann). Vamos investigar isso.

    Quanto à utilização de obras literárias em teatro, isso já é bastante utilizado. Recentemente, no Brasil, tivemos experiências bem sucedidas de Luiz Arthur Nunes e Aderbal Freire-Filho, ambos no Rio. Agora mesmo um Dostoievski está em cartaz em SP - e você mesmo já adaptou e atuou em um!
    Encenações literais ou adaptações de obras literárias, hibridismo de linguagens, teatro contemporâneo.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Um gosto falar de Gertrude, nao a conhecia a fundo e nem mesmo aos textos. Esse sabor do estranhamento que ela propõe é deliciosamente divertido, não sei se acessível a todos os espectadores, porém uma delicia de entende-la *ainda que nao compreende-la em toda a sua criativa posição no mundo.

    A transgressão me pareceu ser a mola propulsora para o direcionamento de seu OLHA, em sua época, para e sobre o mundo. Acho que a dramaturgia tem muito com isso, esse olhar "cutucante" que propomos e que nos propoem. A visao disso tudo me desconcerta e continuo achando que o tempo é a moeda da vida e ela anda curta demais pra tantos prazeres!

    Gertrude viveu num tempo, onde o tempo dava tempo para o tempo de criar, isso me faz falta isso me faz falta isso me faz muita falta.

    Mas esse visualizar de passagem de suas peças-paisagem, agradaram meu paladar.

    Meus cinco sentidos estao a cata dessa nova paisagem.

    Gertrude! foi um prazer te conhecer! (pós aula e pós maior entendimento de sua existencia)


    Saludos,
    Elaine

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