O post de hoje é o resultado dramatúrgico de uma situação vivenciada num dos encontros do Ciclo. A partir da leitura e análise de textos de Brecht e Beckett, do estudo de personagens, rubricas, universo de cada autor, dois participantes, voluntariamente, registraram suas impressões na forma de um texto teatral.
Esboço de Teatro I foi escrito primeiro e, teve continuação no II.
Outros textos a várias mãos continuam circulando pelo grupo via e-mail.
ESBOÇO DE TEATRO I
ALUNA
PERSONAGEM A
A Aluna se apresenta no primeiro plano. No segundo plano, a personagem A.
ALUNA – Eu sou a aluna. Participo de um ciclo de estudo que acontece as quintas-feiras a noite. Nesta última, a professora teve um problema e não pode comparecer. Ainda assim, os alunos trabalharam em grupo e decidiram enviar por e-mail suas impressões para a professora.
Entra no primeiro plano a personagem A
ALUNA/ A – (em coro) É preciso aproveitar as oportunidades que a vida nos coloca.
O contratempo pode ser um problema.
Mas o mesmo contratempo pode ser uma fagulha criativa na mente de quem participa.
É importante extrair o melhor de cada situação.
Acende-se uma luz que nos permite vislumbrar uma mesa e duas cadeiras. Sobre a mesa, papéis em branco, uma caneta, um prato com um sanduiche, um isqueiro e um castiçal com uma vela apagada. A caminha em direção a cadeira da esquerda e senta-se. Pega a caneta e olha para o papel em branco. Pausa.
ALUNA – Porque você não começa a escrever? Aproveite as idéias que teve pelo caminho e escreva.
A – continua olhando para o papel imóvel.
ALUNA – Escreva logo, já é tarde! É noite e seu marido a espera. Ande. Escreva! Ora, eu sei que muitas idéias, palavras e imagens povoam sua cabeça e não vai conseguir dormir!Deixe sair. Eu sei que deseja isso.
A – Levanta a cabeça lentamente e olha a aluna fixamente nos olhos. Pausa. Abaixa a cabeça novamente e começa a escrever sem parar.
ALUNA – Isso, muito bem, continue... Procure lembrar-se de tudo, principalmente das rubricas... Lembre-se de tudo o que leu, o que sentiu.
A – Amassa a folha, faz uma bola de papel e atira no chão com vigor. Pausa. Continua a escrever.
ALUNA – Eu sei que você gosta muito mais do absurdo, do vazio, do caos... Eu sei que o subjetivo te encanta e deixa sua cabeça a mil, cheia de idéias e imagens. Então, aproveita!
A – troca de folha e continua escrevendo. Para. Pega o sanduiche e come um pouco.
ALUNA – Esquece o lanche! Enquanto você come as idéias se vão, rumo ao vazio do NADA, muito diferente do vazio criativo que você busca.
A – Retoma a escrita.
ALUNA – O vazio do NADA abraça as pessoas e não permite que se acenda o pavio do questionamento. Depois de aceso jamais se apaga. Essa chama aquece o coração e toma todo seu ser. Você passa a olhar tudo em volta com encantamento. Passa a ter uma aura radiante e emanar vida.
A – troca de folha e retoma a escrita.
ALUNA – Você já pensou em quanta coisa que você não sabe? Que não conhece? Que não faz idéia que existe, mas que seu ser vibra por alcançar? E quantas pessoas que abraçaram o NADA e ignoram o êxtase? (Pausa) Eu entendo você. Eu sei que sou uma das poucas pessoas que consegue compreender. Chegará o tempo em que compreenderá também e saberá o que fazer com tudo isso. A oportunidade vai bater a sua porta ou a vida vai te colocar contra a parede, tanto faz!
A – para por um momento. Troca de folha. Pausa. Retoma a escrita.
ALUNA - Agora termina logo. É noite! É apenas um esboço, você não está escrevendo um livro!
A - para de escrever pensativa.
ALUNA – Vê isso tudo que criou? Há quem não compreenda. Há quem ignore tanto quanto aplaude. Há quem nem fique sabendo o que foi escrito, mas você sabe...
A – Recolhe todos os papéis e ajeita sobre a mesa. Pausa. Pega o isqueiro e lentamente acende a vela. Pausa. Levanta-se e caminha para o primeiro planto, ao lado da aluna.
ALUNA/ A – (coro) É preciso criar oportunidades , independente do que a vida nos coloca. E o mais importante é extrair o melhor de cada situação.
II
A entrega a vela nas mãos da Aluna.
A - Agora trocaremos de lugar (Pausa) Eu serei você (Pausa)
Aluna - Aceito (Pausa)
Silêncio constrangedor. (Pausa muito longa)
A/ Aluna( Uma olhando para outra como um espelho - todos as ações até o final da fala como jogo de espelho) - (coro) Entendo (pausa) Sem mim você não sabe ser eu (pausa) Eu sou duas pessoas?(pausa) Mulher?(pausa curta) Mulheres... (pausa longa) Vazio(pausa) Qual o plural de vazio? (pausa) Eu? (pausa) Nós?(pausa) Não sei escrever sem você...
Voz fora da cena: Não sei escrever sem nós...
A e Aluna tocam os dedos....
A: Eu sou um coro que escreve.
Aluna: Eu...
A/ Aluna(coro): Será que descobrimos algo?
(Esboço I: Carina Freitas)
(Esboço II - Adriano "Galego" Geraldo)
Olá, Adélia,
ResponderExcluirfoi só deixar de passar por aqui uns dias e vejo que a pedra ferida solta cada vez mais faíscas. Bom ver essa moçada, por você mediada e estimulada, criando, pesquisando, indo além... Adorei o texto da sempre lembrada e querida Solange...
Parabéns a todos da poeta municipal
dalila teles veras