segunda-feira, 17 de maio de 2010

Pra não dizer que não falei das letras...




Tô te escrevendo pra dizer... Mas não disse nada ... Não direi nada. Puro niilismo, quero ser niilista, agora que aprendi essa palavra ninguém tira ela da minha boca. Nada vezes nada, jusqu’à jamais forever.
Agora disse, falou que não falaria, mas disse sem medo, escreveu SOU UM HOMEM de PALAVRA, palavra por palavra: língua, quero me enrolar em você, rolar pelos lençóis macios da cama desarrumada.
Ouve ele, LINGUA CURTA, INCULTA E BELA E FEIA E MALDITA, poderia ser bendita, ou mal falada. UMAzinha.... Só dá UMAzinha...
Proposta indecente! mas e daí:

viva os epicuristas e a retomada do prazer: eu quero ser a Lady Gaga! Madona já é demodê! Quero ser símbolo Sexual casual. Adoro símbolos desenhados nos outdoors. Grandes.., todo mundo vê. Quero, Mas não posso! Desejo! Quero muito!
A língua é um enigma!!!! Sempre foi!
Não foi isso que pretendi não dizer ou ouvir; Desenho letras no papel.
Mas não vou dizer! Vergonha? Não! Não gosto de escrever, isso não me atrai. Sou um homem de letras, sem letras. Por isso é que desenho esta carta com symbolos que só estão no meu inconsciente vergonhoso. Você me entende?
Ora, prezada destinatária ele quer te convencer, que não escreve uma carta pra você. Eu sou só metalinguagem, mais meta que linguagem... Ele desenha letras? Não! Uma Pinóia Maldita! Ele te escreve, mal-escrita, malquista. Ele quer ser seu CONSOLO, bem sólido já que língua que se preste, mesmo curta e inculta precisa do CONSOLO. E eu observo, como os mesmos olhos de Capitu (mais pra capetu).
Eu Amo o meu remetente.
A língua é um enigma!!!! Sempre foi!
Primeira tentativa:

Meu amor, li como você é diferente da francesa, as vezes arrisco um olho pra chinesa (Viva a globalização), mas é você que prefiro, minha bigoduda tupinambá , com um cá lá na terra dos Bundos, (ora que quadril!) e esse sotaque macarrônico que me dá vontade de comer hambúrguer...
O que foi que pensou essa preconceituosa? O que você pensou prezada ( que é mesmo prezada) destinatária, somos dois que escrevemos pra você tão POP...(mas ele do que eu – sou só metalinguagem! Ouviu? METALINGUAGEM. O que disse?
EU QUERO DIZER MENAS, MAS NÃO SEI SOLETRAR! VIVO NO MUNDO DA SOLETRAÇÃO SEM SENTIDO! ME QUEREM APENAS NAS LETRAS VAZIAS. NÃO SOU UM CONJUNTO DE REGRAS VAZIAS.
Azar o seu
Não tem mais tentativa...
Volto a desenhar, não escrevo. Desenho symbolos, nunca mais te escrevo, espero que morra: por fora bela viola, por dentro prisão bolorenta.

Ele foi.

Fui.

Não tem beijo.


(Mônica dos Santos)
(Ilustração: fragmento de obra de Arthur Bispo do Rosário)

10 comentários:

  1. Depois de estudarmos alguns artistas que fundaram as bases da dramaturgia contemporânea, subvertendo a forma dramática, propus que os componentes do Ciclo subvertessem a forma epistolar.
    Enviar uma mensagem que traduza o ser/estar pós-moderno e pesquisar/experimentar como esse conteúdo se precipita na forma.

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  2. Monica, Adelia e amigos do grupo...
    haverá um dia em que não mais usaremos (infelizmente !!!) mais as palavras...talvez nem mais os símbolos, como propõe esta carta...apenas numeros, como a linguagem do cosmos...isso assusta! Claro.
    Assusta e muito, porém estamos nos preparando para isso, eu de minha parte inovo, mas bem devagarzinhooooo o o o ....

    muitos e muitos e muitos beijos, afinal apesar de tudo ruindo o mundo ainda precisa desse amor das entre linhas da busca contínua.

    Monica, me surpreendeu!
    beijares e abraçares,

    Elaine

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  3. PS...essa gravura é do Leonilson?? ou do poeta Gentileza??

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  4. A forma que ficou o texto já torna-se um simbolo.. Idas e vindas, gritos, desabafos, cochicos.. Metralha-nos, com palavras.

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  5. Bacana perceber como cada um percebe o texto. Ele me bateu de um jeito, engraçado ver as possibilidades sugeridas pra cada um... outras impressões surgem...

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  6. Uma carta com várias vozes, vários "eus" que contradizem-se, denunciam-se? Talves pela diagramação me deu essa sensação. Resumindo: adorei.

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  7. Duplos sentidos a parte, “A lingua é um enigma, sempre foi” e continuará sendo desvendada por cada indivíduo, cultura, civilização,cada mundo. É, para mim, nossa mais complexa ferramenta de expressão. Enquanto as demais linguagens (visuais, gestuais..) são mais democráticas, “o verbo” exige muito mais. É preciso ser iniciado naquele conhecimento do simbolo, do significado e no seu veículo de expressão. Fora deste contexto suas impressões serão outras, vagas.
    E esse pós-modernismo subverte as formas convencionais da linguagem. O autor pode demonstrar sua autonomia sobre o que está escrevendo, permite-se registrar seus humores, pensamentos, emoções da forma como ele próprio as sente, ou como seu personagem as vivencia. Ele brinca, nos confunde e nos afeta, tanto com os temas atuais como com as formas inovadoras e desafiadoras.
    E dizem que quando Deus olhou para baixo e viu a Torre de Babel sendo construída, disse: “ Vamos, pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros”(Gênesis 11;7). O caos foi instaurado por Deus, será?
    A forma escolhida pela Monica na sua carta identifica para mim, leitora, as várias vozes, as várias personalidades dentro da sua personagem. Como se a personagem permitisse que diversos “eus” emergissem do inconsciente e pudessem expressar-se. As letras maiúsculas, minúsculas e em negrito sugerem variados estados de espírito, entonações de voz que podem ser utilizadas na leitura.
    Me passa também uma inconstância, como quando lutamos contra um pensamento que nos atormenta. Outro ponto interessante é que, nas cartas convencionais há apenas um destinatário e um remetente, enquanto aqui há mais que um remetente para a mesma carta. E esta segunda voz diz as coisas que a primeira não consegue dizer. “Eu amo meu remetente”, e nesta frase me parece que o próprio destinatário também escreve a carta, ou seria a própria carta criando vida, a própria linguagem falando por si?
    Bem, Monica... Eu viajei muito lendo sua carta e gostei bastante do resultado e do que me proporcionou. Parabéns.

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  8. Uma das questões mais complexas em relação à arte contemporânea são os critérios de avaliação estética.
    Como avaliar uma obra que foge dos padrões a que estamos habituados, que subverte, transgride, oculta elementos antes tidos como essenciais para sua constituição?
    Uma carta que não tem um destinatário definido, que não tem assinatura, que não defina um tema nem discorra com lógica e articulação um pensamento? Uma carta que mais pareça um vômito, uma alternância de vozes concorrendo umas com as outras para serem lidas/ouvidas deixa de ser uma carta?
    Talvez uma pista que nos leve à apreciação estética desse tipo de obra – vamos nos ater ao teatro, por exemplo – é o quanto ela nos toca como espectadores. Muitas vezes essa comunicação não passa pela lógica, pelo entendimento racional, mas nos atinge no que temos de humano.
    Como a carta escrita pela Mônica. Vemos nela um conflito instalado fora dos moldes convencionais. Um conflito vivo, porém. Um conflito pulsante, torturante, com ao qual, se não nos identificamos, ao menos nos solidarizamos – essa busca pela palavra que, no mais das vezes, sabemos incapaz de expressar integralmente o que vai pela nossa alma.

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  9. "Um sentir é o do sentente e o outro do sentidor" citando Guimarães Rosa, é como hoje em dia tento encontrar um procedimento amoroso para as avaliações estéticas. O mundo me choca, mas nao me deixo chocar. Ou o algo me toca ou não me toca!!! Estudo para entender, mas ainda assim tem que ressoar com meu intimo, caso em contra...espero, a resposta vem.

    "As palavras são de carne e osso, seres vivos. A carne macia das vogais e a ossatura das consoantes. Escrevo, e creio que este é meu aparelho de controle: o idioma português, tal como o usamos no Brasil; entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo, eu traduzo, eu extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros. A gramática e a chamada filologia ciência lingüística, foram inventadas pelos inimigos da poesia”.

    (1983: Rosa, 88/em entrevista a Günter Lorenz, em 1965).

    Intuo que para o teatro, ao utilizarmos textos diferentes e instigantes e de tantas origens, nutrimos a alma "estética" meio poética, andarilha e servidora, e de tantos temas algo ressoa com o pulsar do mundo. Uma hora algo vibra e dispomos ao mundo novos textos...mas me pego na questão que nos foi lançada nos primordios do curso: A quem escrevemos? Há essa necessidade no mundo, de escrevermos de diferentes formas, maneiras e teores??

    E nesse paralelo vejo a carta texto da Monica e percebo que há de se estar preparado para falar a sua própria lingua, como G Rosa e expressar em tentativas essa alma que sobre a terra caminha.

    Tudo é um grande conflito, mas como todo conflito, uma obra aberta, entramos, aceitamos ou nao, subvertemos ou nao, submetemo nos ou não. Criamos!

    Essas reflexões me deixaram cansada...rs
    Um beijo e até nosso encontro,
    Elaine

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  10. Parece que em meio a tudo isso escuto buzinas,músicas altas, vendedores de bala e limpadores de pára-brisa.
    Isso tudo me parece minha cabeça em um dia de atraso......

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