Nosso Ciclo encerra sua primeira fase com a análise do texto Psicose 4h48 da dramaturga, atriz e diretora britânica Sarah Kane.
Coincidência: amanhã, 23 de junho de 2010, faz dez anos que o texto estreou no Royal Court Theatre em Londres. Esse teatro, conhecido mundialmente pelos programas de fomento à nova dramaturgia, foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento e divulgação da obra de Sarah Kane.
A escolha de Psicose 4h48 como o último de nossos textos não foi por acaso. O estudo que começou com as reflexões sobre a pós-modernidade e foi atravessado por Artaud, Gertrude Stein, Brecht, Beckett, Kroetz e Müller encontra agora na dramaturgia de Sarah Kane sua culminância. Nessa peça é possível identificar claramente a temática que nos tem acompanhado desde março: o homem contemporâneo. É possível encontrar nela elementos, princípios, procedimentos, ideias de cada um dos autores estudados (e tantos outros mais), de modo que Psicose 4h48 vem carregada de ancestralidade – humana e estética.
Por isso penso que analisar a peça como carta de uma suicida, como tem feito alguns, me parece subjetivá-la demais. Limitá-la a desbordamento das neuroses de sua autora é desconsiderar toda sua trajetória artística. Seria como atribuir as obras de Artaud a seus problemas, ligando obra a disfunções, quando, a meu ver, o artista cria apesar dos problemas que enfrenta – problemas de qualquer ordem. E há inúmeros nomes que poderíamos citar. Artistas da fome, do medo, da repressão, da loucura, do preconceito.
Sarah Kane foi uma artista de seu tempo. Transgrediu a forma porque o conteúdo o exigia: violência, guerra, abusos de toda espécie. Foi criticada por isso. Sua primeira peça, Blasted (1995) foi a menos vista e a mais comentada de Londres, segundo um crítico, mas foi suficiente para mostrar o talento da autora, então com 24 anos. Seguiram-se mais três peças e um roteiro para televisão. Psicose 4h48 é a reunião de anotações que Sarah Kane fizera antes do suicídio, em 1999. Muitos consideram o texto a expressão dos processos concretos e/ou internos que a dramaturga vivenciara em seus internamentos em hospitais psiquiátricos.
Independente das circunstâncias em que foi escrito Psicose 4h48 sustenta-se como poesia e como teatro. Mantem a dramaticidade sem subjugar-se ao drama enquanto forma. Trabalha ritmos, sonoridades, repetições, narrativas, lirismo, coralidade na linhagem dos melhores textos não mais dramáticos. Comunica e pede interlocução com o público e o leitor. Permite que se crie junto com ele a obra de arte. É generoso na medida em que não define personagens nem determina uma geografia. Acolhe a subjetividade de cada um, sua compaixão, sua busca pelo amor, suas dúvidas quanto à própria sanidade e adequação num lugar e num tempo que, muitas vezes, parecem insanos.
(Adélia Nicolete)
A melhor parte desse post é a que diz "suas dúvidas quanto à própria sanidade e adequação num lugar e num tempo que, muitas vezes, parecem insanos"... todos esses autores que andamos estudando, pra mim, é um mais louco que o outro !!!!
ResponderExcluirSerá que modernidade é sinônimo de insanidade ?!?
Penso que toda tentativa de expor-se e à sua obra em começo de novos tempos ou novas estapas culturais, digamos assim, é um ultrapassar de limites, em alguns casos, esse transpasse é dito insanidade, loucura ou "visagismo".
ResponderExcluirCreio que para entender isso tudo, ainda me falta muita compreensão, informações e muita ida ao teatro, mas enquanto não formo um conceito a respeito desse motim intelectual, em alguns momentos, inclusive de minha própria escrita, me sinto e os vejo, aos escritores, num momento de loucura; loucura ou insanidade, como queiram, nem sempre premeditada.
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abreijos, Elaine
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSe tudo isso for loucura, eu quero ser louca. Não mediria escrupulos para ser louca, diria até Vou ser Louca, e me deixem.
ResponderExcluirPsicose 4h48 não só me fez admirar a autora como me instigou até o último a vontade de levar isso pro palco.
Essa intensidade, quase me fez explodir enquanto eu lia.
A maneira com que foi escrito enquanto forma e linguagem atropelam qualquer sugestão que é uma simples carta suicida.
Que vontade que me deu de sair correndo, de cair, e chorar, de virar de ponta cabeça, de subir no palco e tantar passar o máximo de todas as sensações que tive.
"NÃO CALEM O QUE EU AINDA NÃO SEI GRITAR"
Mais uma vez eu repito
SE ISSO FOR LOUCURA ME DEIXEM SER LOUCA!!!!!!!!
Sinto duplamente feliz por ter conhecido a Sarah Kane neste ciclo e exercita-lo na prática no Satyros. É um exercício dos mais prazerosos e doloridos, a ponto de ficar em carne viva os nossos sentimentos: Totamente expostos, tortos e dilacerados quando lemos Sarah Kane.
ResponderExcluirQuanto mais leio seus textos, menos a conheço e mais me vejo.
É o olhar sobre o abismo.
Desculpem, quem é essa burra de Juliana Flamínio, não entendeu nada??? Qual a idade mental da anta? 150 anos, ahahahha, volta a estudar...Amo, amo Sara Kane, e tem estúpido que devia lavar a boca com sabão antes de falar qq coisa de teatro...
ResponderExcluirSerá que vc poderia me passar de onde vc pesquisou essa matéria.
ResponderExcluirJacque, o texto eh meu e as informaçoes vem de pesquisas em livros e artigos da imprensa e tambem de uma disciplina que cursei na UNESP sobre teatro contemporaneo.
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