Quando criança, eu gostava muito de ir à igreja na época da páscoa para ver aquela escultura de Cristo lá deitado, morto. Eu achava aquilo interessante, porque ele não ficava dentro de um caixão. Eu gostava muito de ver as pessoas em volta daquela imagem em tamanho quase natural, parecia que todos estavam mesmo velando uma pessoa. Quanto aos ovos de chocolate, eu sempre ganhava. Do tamanho que eu queria.
Hoje eu não vou mais à igreja na sexta-feira santa.
Não gosto de pintar as minhas unhas com esmaltes coloridos, apesar de achar que em outras mulheres isso cai muito bem. É porque meus dedos são pequenos, e quando eu coloco cor nas pontas, parece que eles ficam ainda menores. Além disso, a pele da minha mão também tem linhas trazidas pelo passar dos anos, e eu acho besteira ficar me lembrando disso a toda hora. No meu último aniversário, achei que as horas passaram rápido demais. O tempo me confunde e ainda me deixa irritada.
Gasto uma quantia razoável com a porcaria do meu celular, por causa da minha necessidade de conversar. Converso com as pessoas na fila do banco, no ônibus, dentro da sala de aula. No consultório. E tudo vai ficando na minha cabeça. Nos dias que eu estou muito cansada, nem sei dizer se as idéias são minhas ou dos outros. É o preço que eu pago.
São poucas as viagens que eu já fiz. A maior delas talvez será a que ainda vou fazer. A fé que um dia isso vai acontecer me faz seguir adiante.
Sou uma pessoa comum. Sou um retângulo de um tecido, uma peça da engrenagem. Porém, sem mim, nada existe para mim mesma.
(Carla Silva escreveu este retrato em 1ª pessoa a partir do auto-retrato feito em colagem por Ingrid)
Só ela mesma
que gosta de esmaltes
E também de
chocolate “branco”
Que gosta de viajar
Mas odeia esperar
Ela gosta de mar
Mas sem saber nadar
Que ama festas
Carnaval, Natal, tudo.
Que é estabanada
Pois consigo não para
nada!, nada mesmo
Ela gosta de ganhar presentes
Mas também gosta de dá-los
Ama comer chocolate, mas
não quer engordar
Odeia seu cabelo, pois
Queria mais liso
Ama praia, calor,
Mas não gosta de biquíni
Pois se acha muito gorda
Para usar
É impossível descrevê-la
em um poema.
Como eu disse ela
estabanada que só
Diz que ama internet,
celular, mas se perguntar
Onde está o celular dela
Qual seria a resposta?
PERDI
(E este é o retrato em 3ª pessoa feito em sala pela própria Ingrid)
Quantas curiosidades nas análises desses textos, encontramos em alguns a sintonia e em outros complementaridade!
ResponderExcluirO visível criando novas manifestações... gosto disso, gosto desse ampliar que acontece quase que naturalmente. O ser humano tem essa caractarística, gosta de contar histórias e dar um fechamento conclusivo ao que lhe instiga.
Beijos
Elaine PB
Gostei muito
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