Meu pai criava cavalos na cidade em um enorme terreno que pertencia à companhia de gás
Eu
de manhã nos restos de fogueira dos rapazes da vizinha
Aprendi junto com a minha irmã a
à primeira sensação de liberdade que senti
Passados alguns anos
mudou-se conosco
a cavalo Quando pude comprei uma moto
de surpresa
toda a família
arrumou-se com um casamento coletivo
Hoje moro com minha namorada
temporariamente meu sobrinho
O marido bebia
O garoto tem dado
febre diarréia está mal educado anda mostrando o dedo
dessa vez ele machucou o bracinho
Eu sei que ele está tentando
“relóginhos” desenhados no pulso
descobrir bilhetes escondidos
Estou cansado
está me torturando Sinto falta de liberdade Em silêncio
viagens sem destino
não ter a obrigação
Isso não voltar Nem sempre a falta de medo é sinal de coragem
mas há muita mágoa sempre parti
Para ir mais longe
Já estou quase
esse é meu plano
o que mais reluta
de jeito nenhum
tão mal Sou baixinho carnívoro
um bando de cães e destempero
Viajar
voltar menos não voltar tanto assim Ir
(Adriano Geraldo escreveu este retrato em 1ª pessoa a partir do auto-retrato feito em colagem pelo Paulo)
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O garoto, exausto de sua vida cotidiana
Querendo viajar pelo mundo
Conhecer lugares novos
pessoas, refeições, estilos de vida, culturas e tudo mais.
Ele se senta debaixo de uma árvore
Olhando para o céu, ele dá uma piscada
Dando mais uma piscada, ele vai para casa do amigo
Dando mais duas piscadas, ele vai para a Itália
Mais três piscadas, ele vai à China
Mais quatro piscadas, ele vai à Europa
Mais cinco piscadas, ele vai à Austrália
Mais seis piscadas, ele vai à Grécia Antiga
Mais sete piscadas, ele vai para Lua
Dando mais oito piscadas, ele vai para casa de um
Homem batata de chapéu caipira
O garoto estremece a cabeça e se levanta e
diz indo para casa
_ Já fui para vários lugares por hoje. Deixarei
mais um pouco para amanhã.
(E este é o retrato em 3ª pessoa feito pelo próprio Paulo)
São tantas leituras possíveis que é normal que se tenham idéias diferentes sobre uma mesma imagem. E quando são várias imagens próximas, ligadas ou sobrepostas, com tamanhos diferentes, as combinações de idéias que formarão a colcha de retalhos do texto a ser escrito, torna-se mais ampla ainda.
ResponderExcluirNestes textos do Adriano e do Paulo, notei que a energia que envolveu a um, também pairou no texto do outro... Curioso!
Qual a probabilidade de trilharmos um caminho parecido num exercício como este?
essas sincronias, em mim também despertaram curiosidade e uma aceitação! Como da frase do Picasso sobre o Sol...
ResponderExcluirPreciosas observações ritmadas como em Sarah Kane; Adriano deu um tom profético, como uma cena em andamento que por absorção me doeu.
Uma emoção disparada! Piscadelas.
Elaine PB