terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sarrazac - Inspiração





São duas horas da manhã e não conseguia dormir
“Um teatro em vias de fazer-se”
Queria escrever
“Públicos bastante variados”
Não tinha saco pra me levantar da cama
“Liberar a expressão pessoal de cada participante”
Senti frio
“Vozes silenciosas”
Tentei dormir
“Coro discordante”
Me peguei pensando de novo em como será
“Não manifesta nenhuma prevenção contra uma tal estética induzida”
Tenho de ler mais
“Escolhi recusar esse fenômeno da estética induzida”
Continuar observando as pessoas na rua
“Aqueles que já tem uma grande experiência de escrita”
O relógio do meu quarto não faz barulho
“Aqueles que são totalmente neófitos”
O sono ia chegar
“Próprio caminho”
Tinha de chegar
“Tensão-ação-silêncio-o eu”
A rua fica sempre mais silenciosa à noite
“O teatro pesa com todo nosso peso no chão”
E mesmo assim, há muitos que também não conseguem dormir
“Crise de paranóia familiar”
Ou não podem, ou não devem dormir
“Cada um faça ouvir, no sentido próprio, sua voz”
Simplesmente porque estão vivendo
“Uma re-escrita quase permanente”
Ou trabalhando
“Da qual nos fala a psicanálise”
Finalmente eu senti o sono
“A atenção e o interesse do ouvinte correm o risco de se esgotarem”
E a cidade continuou... Lenta, mas continuou
“Intertextualidade”
Quantas coisas acontecem ao mesmo tempo?
“Aprendeu mais ainda nesta outra obra, a vida”
O Tempo é relativo
“Desalojar o escritor de uma atitude do tipo “diário íntimo exposto em cena”
Ouço isso sempre
“Seja absolutamente transformável e adaptável”
e a hora de acordar chegou; já era mais um dia

(Carla Silva)

(Este texto foi enviado como comentário ao post anterior. Por se tratar de um ateliê de escrita e dado o tratamento "semi-ficcional" do comentário, achei estimulante publicá-lo como postagem - uma espécie de aparte, de narrativa paralela às demais contribuições à discussão. Adélia Nicolete)

2 comentários:

  1. O texto que Carla nos presenteia passa uma reflexão curiosa sobre essa intertextualidade, lembra Gertude Stein e nosso jogo textual no ciclo inicial e dezenas de outras possíveis conexões. Li somente as aspas, depois apenas a fala da autora personagem, novas e infinitas possibilidades, encerrando com a leitura integral novamente.
    Sarrazac engendrou um sonho compartilhado com todas as letras e através disso inspira-nos a tentar o novo.
    Carla, concordo com Adélia, estimulante post em reflexão contínua.

    Abreijos à todos, Elaine PB

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  2. Achei o texto muito interessante. Assim como a Elaine, também tive vontade de ler em separado, a fala da autora, depois as aspas, depois tudo junto. Só depois eu li o comentário da Elaine e achei graça por ter feito o mesmo... Interessante também duas pessoas terem feito a mesma leitura.
    Em algumas partes os dois textos parece que se completam. Muito legal!

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