domingo, 20 de fevereiro de 2011

Amigos de dedos - Texto de Tércio Emo



Tomie Ohtake - Sem título -  2000 - acrílica sobre tela - 200 x 200 cm



Acendo um cigarro. Gosto como a fumaça dança pelo ar. Quem aqui sai de perto quanto tem um fumante? Eu odeio quem faz isso. Sempre me sinto estúpido e contagioso.
Adquiri esse vicio porque vi em um blog que cigarro emagrece. Acendo outro cigarro. Faço a mesma seqüência no meu lap: emails, orkut, twitter, msn e por fim facebook. Nessa “aventura” sempre achava algo novo para meu blog. Lembro como se fosse hoje quando consegui mil seguidores no twitter. Tenho mais amigos virtuais do que reais. Os reais posso contar nos dedos. Até gostava de sair com eles. Diziam que eu era muito divertido e bem humorado. Pena que saia muito pouco com eles. Esses amigos que contei nos dedos foram os mesmo que compareceram ao meu enterro.

12 comentários:

  1. O ritmo do texto começa suave, depois fica um tanto neurôtico e acaba brusco, denso como a última imagem que me vem a mente: 4 ou 5 pessoas ao redor de um túmulo.

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  2. Tétrico! Soa como que um depoimento de quem está prestes a se matar, e que ao se imaginar morto, imagina o próprio enterro. Parece um conto fantástico! Quase surrealista! Gosto muito deste gênero. Adorei!

    José Lima

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  3. Tércio,
    Com quem este personagem fala? Tem-se indícios que há algum interlocutor no trecho: “Quem aqui sai de perto quando tem um fumante?” No entanto, isto se perde ao longo do texto, e eu achei falta disso. Se a idéia é falar com alguém ou só consigo, seria interessante reforçar para ampliar o impacto do final. Este, por sua vez, causa estranhamento o que me atrai neste texto. Só para completar, cuidado nas repetições de termos como “com eles” que aparecem muito próximos e perde o ritmo da leitura.

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  4. Como uma pessoa que lamenta a vida, a personagem vê a vida de longe, de uma forma que indica que tudo deveria ter sido feito de outra forma. Adoro imagem da fumaça dançando no ar, já imagino a riqueza que isso traria pra cena. A idéia da exposição do relacionamento através das redes socias explicita o contemporâneo no texto do Tércio. Lá vai um e se: E se você trocasse, assim como observou a Suellen, a expressão "com eles", isso causa um estranhamento no texto. Quanto a pergunta: "quem aqui sai de perto quando tem um fumante?",gosto da quebra e do afastamento que isso causa.Final cinematográfico que me faz enxergara imagem de um câmera se afastando por cima do caixão, que tem 5 pessoas em volta.

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  5. Socorro! Que medo! Parece até pessoal...
    Todas as imagens postadas pelo autor Tércio, (mesmo não sendo um fumante) são tão verdadeiras e possuem um ritmo tão real... (Mas pessoalmente, eu, uma fumante, tenho a função de informar a todos, inclusive ao autor, que é mentira essa história que “fumar emagrece”... Eu mesma, uma fumante, continuo gorda! Será que seria mais gorda ainda, se não fumasse?).
    Os tempos das imagens são fortes, verdadeiras e muito presentes. O ritmo da preocupação (mesmo de um não fumante) é muito convincente... E acredito que essas mesmas imagens só podem ser verdadeiras se o autor conviver com um verdadeiro fumante.
    Tércio: Sinto muito, se por acaso, você tenha que conviver com isso! E agradeço que permita que eu fume no seu carro!

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  6. Tércio

    Adoro os personagens masculinos que você constrói. Tão densos e ao mesmo tempo tão solitários...
    Neste texto o seu fumante traz mais forte ainda a temática da solidão. Senti apenas falta de um elemento de ligação mais forte entre o momento em que ele fala do cigarro e a passagem referente as relações virtuais.
    E se...
    Você intensificasse a relação do blog com o início do vício. O que acha?

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  7. Tércio,
    Muito interessante a localização temporal através de sites de realcionamento, embora a partir dessas referências você limita as possibilidades de público para uma cena teatral, se esta for sua intenção, não vejo problemas. Experimente brincar com rubricas em seu texto, como no início onde diz "Como a fumaça dança pelo ar".

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  8. O que mais gosto neste texto é que é breve, dinâmico e surpreendente. As pessoas de hoje se enfiam tanto neste mundo virtual que acreditam realmente nas coisas que pra elas chegam por e-mails, ou o que pesquisam em sites e blogs, nem todos são sérios, mas conquistam o leitor. E se ele não tiver discernimento consumirá ou não tal produto porque algo ou alguém na internet disse que é bom.
    Muito atual e de alerta.

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  9. Que neurôtico e ao mesmo tempo real!
    Muito bom!
    Vemos que a mídia tem uma influência muito grande ,onde o prazer cresce cada vez mais pelo consumo do mundo virtual tornando-se uma necessidade ao mesmo tempo, no mundo em qual estamos inseridos.
    Engraçado que o autor descreve sua história como se fosse um desabafo, e isso se revela logo no começo:
    -Acendo um cigarro. Gosto como a fumaça dança pelo ar!
    Mostra o ponto fulminante em que o próprio ator declara a total dependência ao vício, onde o vazio já está sendo preenchido, ele não possuí mais controle do mesmo, no qual é levado a morte.

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  10. Tércio, percebo que há nesse texto e no anterior algo em comum: um certo distanciamento do narrador. Ele fala sobre si mesmo, mas com uma neutralidade que, se a gente prestar atenção, é assustadora.
    Temos trabalhado no ateliê a questão do homem contemporâneo. Vendo por esse prisma, seus dois narradores parece que desistiram da vida, jogaram a toalha, enfrentam as situações de modo blasé, como se diz. Pouco importa. A situação é essa e eu não posso fazer nada.
    Nao casei com a mulher que eu amava, nao li os livros que comprei, passo o dia na internet, tenho mais amigos virtuais que reais, os quais vejo muito pouco, e por ai vai.Uma normalidade, repito, assustadora.

    Creio que pudessemos investir e aprofundar essa caracteristica em nossos textos. Me lembra o famoso "Vamos?" do Godot, que nao significa ação, mas imobilidade, resignação.

    Se voce quiser retomar e reescrever, meu "e se" é que vc disponha cada frase em uma linha e reveja ritmos, repetições, estados. Depois junte de novo num bloco so, se quiser. Veja o resultado.

    Beijos, querido.

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  11. Tércio, a qualidade dos inúmeros posts revela o quanto ele nos fez pensar.
    Tudo nele me agrada. Não escrevo tanto para teatro e tenho a tendencia de ver sempre pelo lado literário. Mas como o texto de Ana Claudia, o teu me veio pronto, como um quadro em palco, uma cena densa emoldurada por muita fumaça, o personagem palpável, realmente dramático em sua pré consciência que vai se despedir em breve do mundo. O que consome, talvez, o nosso pensar é a crueza contabilizada de si mesmo, essa realidade listada, isso nos choca, nos incomoda, nos coloca diante da fragilidade da vida humana, na materialidade, nas relações inter e intra pessoais, esse espelho de alguém que pode também em algum momento nos refletir. Curioso e forte.
    Apenas um "e se" maroto: ja disse gostei muito do texto, mas se pudesse, eu subverter essa ordem, eu também o transformaria num diálogo cômico, como o revés da medalha. Mas isso é a minha sombra tripudiando sobre o cigarro...rs um grande abraço, Elaine

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