Tomie Ohtake - Sem título - acrílica sobre tela - 1993 - 130 x 130cm
Cheguei em casa. Depois dessa batelada de exames, nada me alivia o cansaço. Nem um banho demorado. Não vejo mais graça ao sentir a água morna da ducha forte. Dessa vez não tem jeito... Agora já se espalhou pelo corpo... Os médicos disseram que o tratamento é agressivo, pesado. Já me alertaram sobre as reações adversas. Vômito. Dor. Diarréia. Perda de apetite... Me antecipo!
Engraçado que agora prefiro ficar aqui sozinha. Não quero que eles me vejam assim. Não preciso de ninguém agonizando pela minha agonia, pela minha aparência. Preciso esperar sozinha pela dor. A dor física e a de ver meu cabelo voltar lentamente a crescer.
Pode ser um exagero, mas a conjugação do tempo verbal é (para mim parece, e principalmente agora) algo muito relevante para o entendimento do “quem para quem...” (Mas nem de perto, eu AZÊ, quero dizer que manjo horrores de gramática, heim??? Controlem-se “venenosos”...)
ResponderExcluir“Cheguei em casa. Depois dessa batelada de exames nada me alivia o cansaço...” . Ela está mostrando para alguém, ou jogando sobre a mesa? Uma personagem que fala sozinho?
ResponderExcluirImagens convincentes que me carregam nos braços... Mas, pessoalmente, meus problemas não se resolvem com “um banho demorado”... Esse tipo de problema então...
Em relação ao tópico silêncio oferecido por nossa condutora Adélia, o sinto muito presente no “Me antecipo! (..................................silêncio............................)
Engraçado preferir ficar...)”.
Mas E se...
As reações viessem de forma mais perversas... Por exemplo: optar por outra ordem:
1 - Falta de apetite – ok
2- Diarréia – (defecar o que, se nem comi?)
3- Vômito – (não há mais nada dentro de mim... Somente o gosto dos remédios????????????)
4 – Dor – (o pior por último) O maior dos medos... Sentir dor física é terrível e, talvez, a mais dura e menos controlável: a dor estética, psicológica: a dor da vaidade ferida da mulher...
Da AZÊ para a Mariana: “Se não fosse bom não haveria o que comentar... ou ainda, sugerir...”
Apesar da dureza do relato da personagem, que diante da doença que se agrava por um processo lento e agressivo; é possível perceber que ela mesma tende a se entregar aos poucos, como se admitisse não ter mais solução. Quando ela diz: "Não vejo mais graça ao sentir a água morna da ducha forte..." é como se os pequenos os raros e pequenos confortos e, prazeres também fossem de debilitando no mesmo corpo. Então, reitero e complemento que, apesar da dureza da situação em detrimento à gravidade do estado em que a personagem se vê, há suavidade na fala: "Preciso esperar sozinha pela dor. A dor física e a de ver meu cabelo voltar a crescer". A vaidade em continuar "feminina", parece uma forma de resgate da dignidade humana. Amei, Mariana!
ResponderExcluirJosé Lima
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir(Com Correções)
ResponderExcluirApesar da dureza do relato da personagem, que diante da doença que se agrava por um processo lento e agressivo; é possível perceber que ela mesma tende a se entregar aos poucos, como se admitisse não ter mais solução. Quando ela diz: "Não vejo mais graça ao sentir a água morna da ducha forte..." é como se os pequenos e raros confortos e prazeres, também fossem se debilitando no mesmo corpo doente. Então, reitero e complemento que, apesar da dureza da situação em detrimento à gravidade do estado em que a personagem se vê, ainda há suavidade na fala: "Preciso esperar sozinha pela dor. A dor física e a de ver meu cabelo voltar a crescer". A vaidade em continuar "feminina", parece uma forma de resgate da dignidade humana. Amei, Mariana!
José Lima
Com palavras simples, a Mariana deixa sua escrita com um caráter de fácil apreciação, de fácil entendimento.Me chama a atenção da presença do silêncio no primeiro parágrafo do texto, onde a sinalização se dá através das reticências.Já na segunda parte o ritmo aumenta, me dando a impressão que a personagem, que reflete sobre seu passado, presente e futuro em pequenas frases, desiste da vida.Denso, este texto aponta exatamente um momento em que a crise se apresenta.
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ResponderExcluirPuxa! Gosto muito da maneira que o texto foi escrito...eu sinto como se a personagem estivesse conversando comigo...me sinto como se eu fosse essa personagem desabafando. Tenho algumas dificuldades com leituras muito rebuscadas de palavras difíceis, e achei que esse foi elaborado de maneira sucinta porém objetiva. Parabéns!
ResponderExcluir“Cheguei em casa. Depois dessa batelada de exames nada me alivia o cansaço...” . Ela está mostrando para alguém, ou jogando sobre a mesa? Uma personagem que fala sozinho?
ResponderExcluirImagens convincentes que me carregam nos braços... Mas, pessoalmente, meus problemas não se resolvem com “um banho demorado”... Esse tipo de problema então...
Em relação ao tópico silêncio oferecido por nossa condutora Adélia, o sinto muito presente no “Me antecipo! (..........silêncio............................)
Engraçado preferir ficar...)”.
Mas E se...
As reações viessem de forma mais perversas... Por exemplo: optar por outra ordem:
1 - Falta de apetite – ok
2- Diarréia – (defecar o que, se nem comi?)
3- Vômito – (não há mais nada dentro de mim... Somente o gosto dos remédios????????????)
4 – Dor – (o pior por último) O maior dos medos... Sentir dor física é terrível e, talvez, a mais dura e menos controlável: a dor estética, psicológica: a dor da vaidade ferida da mulher...
Da AZÊ para a Mariana: “Se não fosse bom não haveria o que comentar... ou ainda, sugerir...”
Gostei muito do seu texto, sobretudo em função das frases curtas. Observei uma sequência de ações que terminam numa reflexão dura e ao mesmo tempo emocionante. Esta personagem é muito tocante e a maneira simples como foi descrita reforça ainda mais esta característica.
ResponderExcluirColocarei apenas um e se...
Na penúltima frase talvez fosse interessante que você pudesse modificá-la um pouco, pois ela ficou um pouco confusa.
Pensei em algo como: Preciso esperar sozinha pela dor de ver os meus cabelos crescendo de novo.
Você pesa o que é o mais importante para o seu texto, caso não queira fazer os cortes, retome o peso do trecho “A dor física e a de ver meu cabelo voltar lentamente a crescer.” e veja se ele deve ser reconstruído ou não.
Mari,
ResponderExcluirO jeito simples de escrever não desmerece a qualidade do texto. Pelo contrário, aproxima mais o leitor. As informações são claras e objetivas, assim como lugar, tempo, conflito e quem é este personagem. Você começou o texto de uma maneira muito, mas muito interessante mesmo que além de dar um salto qualitativo grande, ganha um aspecto presente na produção contemporânea que é o personagem narrar as próprias ações: “Cheguei em casa”. É uma pena que isso só acontece em um momento, portanto lá vai um “e se”: ao invés do personagem SÓ refletir sobre suas angústias e anseios, ele narrasse suas ações, no presente, como algo do tipo “estou em casa agora e não quero que ninguém me veja.”; “aqui diante do espelho espero meus cabelos voltarem a crescer”, etc.
As frases curtas, de escrita simples, quebram um pouco o clima pesado do texto... deixa ele mais humano.
ResponderExcluirTambém gosto das personagens que narram suas vidas, suas dores. Consigo me aproximar das suas aflições !!
O final onde ela diz "Preciso esperar sozinha pela dor" pra mim é o clímax da tristeza e retrato do texto.
Que desabafo!
ResponderExcluirNossa!
Enfim, Má, você escreve de forma tão direta essa mulher, é o que imagino, que o como fazer, a cena está por conta do encenador. O que cabe várias possibilidades!
Mari, minha flor,
ResponderExcluirvocê trouxe para o ateliê um tema atual e pouco explorado em teatro. Talvez as pessoas tenham medo de que caia no melodrama. Porém, curiosamente, há cada vez mais peças ultimamente que tratam de problemas neurológicos, psicológicos, por exemplo. Creio que em breve poderemos tratar com mais naturalidade temas como o câncer e outras doenças.
Seus colegas já comentaram vários aspectos. Um deles é a forma direta e clara com que você escreveu. Concordo com isso.
Meu “e se..” vai justamente na contramão.
Lembra do que falamos em sala sobre o texto lacunar?
Pois é. Quem sabe, numa reescrita, você possa criar uma forma de o sujeito transmitir tudo isso sem dizer tudo isso? Mais ou menos assim: a dificuldade em dizer, a vontade/necessidade de dizer ou de não dizer, o titubeio, a ausência de palavras, a falência da linguagem para traduzir coisas tão profundas como um diagnóstico de morte iminente. Algo menos explicativo e mais implícito.
Coisinhas para pensar.
Abraço forte.