domingo, 27 de fevereiro de 2011

Texto de Aretha Gasparini


(Foto: Adélia Nicolete)


 Vermelha ou preta?
Te espero na porta da loja.
Está bem eu vou rápido.
(Demora horas decidindo entre as calças e vai ao encontro daquele que estava a sua espera.)
Vamos! O jogo vai começar.
Não serviu. Eu me sinto uma bola.
(Beija seus lábios com ternura. Neste instante olha apaixonadamente para um vestido vermelho na vitrina e começa a imaginar-se usando o vestido como uma ferramenta de sedução para atrair o seu amor.)
Vou experimentar.
Espere! (Para e amarra o cadarço do tênis, acompanhante espera na ânsia de segurar sua mão. Saem de mãos dadas romanticamente.)
Vamos rápido, quero ver se me serve.
O jogo vai começar, vamos rápido.
(Entra na loja para experimentar o vestido.)
Eu te aguardo aqui no bar vendo o jogo.
(Sai meia hora depois e encontra sua companhia no bar,lhe dá um beijo e diz.)
Não serviu, deve ser inchaço. Vamos embora.
(Ouve o grito de gol do time adversário.)




10 comentários:

  1. Aretha

    Me parece uma relação amarga destas duas personagens. O jogo que você propõe a eles é o de uma relação, onde ela tenta de tudo para chamar atenção de seu parceiro, e ele sequer a “nota”. A relação entre estes dois parece ter pedido há muito, o encanto e se arrasta num compromisso onde o afeto inexiste, mas isto não tem mais a menor importância. A rubrica final – “Ouve o grito de gol do time adversário” –, é como se tudo já não fizesse mesmo sentido. Faz parte do jogo.

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  2. Não sei se foi o jeito que os diálogos foram escritos, mas me remeteu a uma relação vazia. Mesmo com a rubricas “Beija seus lábios com ternura” ou “...de mãos dadas romanticamente” me parece que tudo é muito mecânico, sem emoção.
    As personagens – que não são definidas - não estão preocupadas uma com a outra, e sim com a roupa nova, o jogo na Tv.

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  3. Que casal mais apressado esse!!! E cada um focado em seu interesse, assim como apontam as frases “Vamos rápido, quero ver se me serve.” (ela) e “O jogo vai começar, vamos rápido.” (ele).
    Bem o clima dos arredores da obra do Sacilotto.
    Esse diálogo rápido e com ritmo acelerado me passa o cotidiano de um casal que já está dentro da monotonia, e as falas jogadas, sem muita conexão me dão a impressão de que essa mesma cena acontece todos os finais de semana com esses dois. É deprimente ela tentando agradá-lo e ele só pensando no jogo. Isso me faz pensar que vida é essa que o casal leva.
    Aretha, seu texto atende a todas as exigências do exercício, mas eu sinto falta de algo que me faça querer um pouco mais sobre essas vidas. Talvez um conflito mais intenso entre os dois.
    Gosto muito do final que aponta a infelicidade dos dois...o quanto a situação foi desagradável.

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  4. O texto apresenta-se como um recorte de uma cena cotidiana. As rubricas dirigem quase todas as ações. O perfil dos personagens se definem através das falas, assim como o tempo e o espaço da cena. Alguns termos da rubrica já indica à encenação alguns estados dos personagens: “Beija seus lábios com ternura”, “olha apaixonadamente”, “acompanhante espera na ânsia...”, “decidindo entre as calças”, “imagina-se usando o vestido” e “saem de mãos dadas romanticamente”.
    As falas são enunciadas por personagens construídos com identidades observáveis, não deixando dúvidas de quem são. Há muitas referências sociais, de conflitos e de perfil psicológico. Sabe-se precisamente de onde vem a fala, quem fala e a quem ela se dirige.
    E se: trabalhasse a contradição da fala com a ação, como foi discutido no texto do Ryngaert (“oposição entre a situação dos personagens e seu discurso/ a palavra mantendo uma relação cada vez menos codificada com a situação.” P. 136 e 137)

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  5. Esse tipo de leitura transcende os limites da palavra, pois dispensa tanto o emissor (autor) quanto o receptor (leitor) a capacidade de ler e escrever no sentido tradicional e até mesmo racional. A interpretação das imagens, com suas seqüências de causa e efeito, gerando as conseqüências reconhecíveis no ser humano. Insegurança, desistência, insistência, solidariedade, respeito, tolerância e aceitação (mesmo que fingida)... Li tudo isso no texto da autora. É claro que para todos houve diferentes leituras, e é claro que proporcionar todas essas leituras foi o objetivo principal de quem as criou. Agradeço ao me sentir bombardeada com tantas informações e sentimentos, e que na minha opinião, são requisitos indispensáveis para uma boa leitura.

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  6. Aretha

    É engraçado como este texto completa o que você escreveu anteriormente. Entretanto, observo que apesar do outro texto ter imagens mais duras, este de certa maneira é mais amargo.
    Digo isso, porque vejo que ao tratar de maneira corriqueira a relação destes personagens, o esvaziamento da relação dos dois se torna mais latente (bem como, a baixa estima da personagem feminina).
    Acredito que tal fator se dá, sobretudo, em função da maneira como você transcreveu as rubricas: descrição fria, com ares de relatório.
    Vejo no seu texto também um jogo de oposições, no qual o que é dito não corresponde à ação, o que provoca certo estranhamento. Neste ponto, as rubricas são fundamentais. Não tenho sugestões para você, acredito que seu texto está pronto para ser encenado.

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  7. Já se passaram algumas horas desde que postei meus comentários sobre o texto... E conforme orientação, não havia lido nenhum dos outros comentários. Agora já li!
    Resultado:
    Ficam em mim algumas perguntas?
    - Acreditam mesmo que esta relação seja vazia?
    - Que o respeito pelo outro não exista?
    - Que para que sejamos realmente felizes, devamos nos aceitar?
    - Enxergam falsidade nessa relação?
    Só pude ler um verdadeiro desejo mútuo de querer ser o que realmente se é... E isso não é ser vazio... É preencher!

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  8. TEatral ...
    essas rubricas que indicam quase que a intenção, o porque da ação, nas entrelinhas, já vi isto em diálogos,não em rubricas, acho ótimo, diferente, pois cada encenador imagina de formas diferentes também.
    Amei! Fica no ar se estão juntos pra sair apenas, se estão juntos há muito tempo, se já nem juntos estão mais. Depende do que o encenador enxergar pra cena.

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  9. Senti muito frieza nos personagens,além da pressa que lembra a correria do nosso dia-dia,onde o interesse de cada personagem são objetos como roupas, tv que talvez venha satisfazer uma necessidade e outra simplismente uma vontade, deixando o companherismo meio jogado e perdendo seus valores.
    Isso é o que vivênciamos a cada dia e me faz recordar do texto a Era do Vazio.

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  10. Aretha, querida,
    quanta coisa a observar a partir do seu texto. Ele dá margem a uma série de análises, com muitos pontos que já abordamos nesses dois módulos da disciplina Dramaturgia.
    Vou elaborar meu comentário tomando como referência o da Tátila.

    Ela diz sentir falta “de algo que me faça querer [saber] um pouco mais sobre essas vidas. Talvez um conflito mais intenso entre os dois”.
    Numa primeira leitura, parece mesmo que está faltando alguma coisa. O tipo de dramaturgia a que estamos acostumados, em geral, apresenta um problema (conflito) e a resolução dele. Há uma tensão, há um suspense, uma espécie de luta se trava pela superação do obstáculo, etc.

    Sua proposta, ao contrário, me lembra alguns textos em que o conflito maior corre por baixo da ação e não na superfície. A superfície pode ser ou de rotina/cotidiano ou de descaso – talvez por isso alguns de seus colegas viram tanto uma relação fria entre os personagens (descaso) quanto uma relação “normal” (rotina) - mas o que corre por baixo é a tônica da cena.
    Peças teatrais como “Alta Áustria”, por exemplo, trabalham esse cotidiano aparentemente sem ação.
    Afinal, o que querem os sujeitos que você criou? Coisas simples: assistir ao futebol e comprar uma roupa que sirva. De preferencia ao mesmo tempo. Mas como não é possível, eles alternam as ações, dão um jeito de driblar o tempo escasso da tarde e satisfazer aos dois objetivos.
    No final, frustração. Nem ela encontra a roupa, nem o time dele ganha...
    Cotidiano.
    Os desejos tão simples, os conflitos também tão simples, tão comuns. E tão humanos...

    Com esse diálogo, pudemos ver o corre-corre da cidade na tarde de sábado. A mesma em que ficamos observando (e sendo observados). Sua sensibilidade abriu espaço para dois seres que quase nunca encontram lugar na cena. Justamente porque tem desejos simples.
    Franz. X. Kroetz, o autor de Alta Áustria, critica justamente essa falta de ambição, essa sujeição ao comum a que está relegada a maioria da pessoas.
    Mas isso é uma outra história.

    Beijos procê.

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