domingo, 20 de fevereiro de 2011

Texto de Juliana Flamínio


Tomie Ohtake - Sem título - 1983 - óleo sobre tela - 100 x 100cm



Nove em ponto, a sessão vai começar. Depois de 6 julgamentos sinto vergonha de ter aceitado este casso.
Penso na minha família.
Bandido !!!! Era a verdade sobre meu cliente, mas quando assinei aquele contrato eu não fazia idéia que iria ter que fechar os olhos para tanta podridão, injustiça e mentiras.
A combinação de medo e dinheiro pode silenciar muitas almas.
Cinco horas depois meu teatro acabou. Faz 40 graus lá fora. Me sinto sufocado. Preciso sair. Vou explodir...
Tumulto, repórteres, PAH !!, gritos, correria.
Um corpo cai ao chão, é o dele.
Vejo o sangue escorrer... é como se lavasse a minha alma.
Penso na minha família.

13 comentários:

  1. Gostei! Dá até para enxergar o personagem. Me passa a impressão de um fragmento de uma cena de um Filme; o texto propõe tempo, clima, cenários... Suspense! E a chave do mistério fica nesta fala: "Penso na minha Família". Adorei!!!
    José Lima

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  2. Ju,
    Personagem super definido, assim como tempo, espaço e conflito. Todas as informações estão claras não deixando dúvidas ou outro tipo de interpretações. Como o Lima disse, parece o fragmento de um filme. Esse texto ainda poderia estar escrito na contra-capa do filme que ainda assim eu o alugaria para assistir, pois com certeza terá um “gramfinalle”. Só para acrescentar a repetição da frase : “Penso na minha família” está na medida e instiga o leitor.

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  3. Texto que passeia pelo tempo, acelera e freia as horas.Me faz pensar em uma cena muito cheia de variações. Personagem reflexiva! Muito boa a repetição da frase que primeiro aponta a crise da personagem e depois arremata o texto,chegando ao leitor com outro tom. Gosto da quebra com a imagem que começa com o tumulto fora do tribunal.Uso de mudança de tempo e espaço deixa o texto com um bom ritmo.
    Com muita intensidade, a Juliana mostra que tem muita facilidade com ótimos finais.

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  4. Muito bom! Passou uma cena de filme em minha mente, onde os caros colegas ja citaram, o texto está bem defino(tempo,espaço,lugar) há começo meio e fim .

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  5. A localização do tempo e espaço no texto da Juliana nos faz “viajar” pelas linhas por ela escritas... O ir e vir da história promove uma teatralidade especial, quase cinematográfica. (bem ao seu estilo).
    A citação de “lembrar da família”, usada por duas vezes, é extremamente importante para a figuração dos valores e educação vivida pela personagem em relação a sua formação. Adoro as frases curtas... Deixam o ritmo de pensamento da personagem muito claro. O calor externo (temperatura) combina com a pressão interna vivida...
    Simples e muito verdadeiro... Como se conhecêssemos pessoas assim... Pois na verdade, elas existem.

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  6. Certamente poderia ser usado como um dos roteiros desses seriados policiais americanos, que particularmente adoro. A forma como a Ju escreve nos permitem visualizar cena por cena, não deixa dúvidas naquilo que ela quer que sintamos em todos os momentos. A angústia e o alívio do personagem o torna mais próximo e ainda mais humano.

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  7. Ju

    Existe uma frase no seu texto que é emblemática: “A combinação de medo e dinheiro pode silenciar muitas almas”.
    Acredito que ele resume muito bem a essência do seu texto e por sua vez explora um temática extremamente contemporânea, sobretudo quando nos reportamos ao nosso país.
    Gosto do ritmo do seu texto (rápido e objetivo) e a maneira como você inseriu o tiro pareceu na medida no âmbito desta rapidez.
    A repetição da frase “Penso na minha família” foi arrebatadora: muito bom mesmo!

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  8. Bastante angustiante a imagem de seu personagem, a sujeira da humanidade muitas vezes nos torna pessoas duras, mas mesmo em tanta sujeiroa este advogado (suponho) tem ainda um sentimento de afeto no fundo, a sua família.
    "Tumulto, repórtes, PAH!!,gritos, correria." este trecho poderia ser substituido por uma rubrica.

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  9. Jú, você sempre nos surpreende com seus personagens, esse o que não fez para garantir o seu, hein?
    Tão real,verdadeiro que parece que o conheço.Ao mesmo tempo que imagino um crápula, me passa a cabeça também covarde, coitado, ingênuo.

    Excelente personagem!

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  10. Ju, querida,
    em seu texto voce mesclou a proposta do retrato a uma situação.
    tal como o texto da Aretha, vemos o momento da crise,que, em geral, é quando o personagem costuma se revelar mais profundamente.
    No seu caso, o sujeito não expressa diretamente o que vai pelo seu interior. Numa leitura mais apressada, imaginamos que ele está apenas pensando.
    Porém, na passagem para a cena, isso pode se tornar uma narrativa aberta ao outro.

    Creio que seria bom se pudessemos saber mais sobre esse homem (ou mulher?). Seu texto permite uma extensão um pouco maior. Entao esse é o meu primeiro "e se..."

    O segundo diz respeito ao desabafo do terceiro parágrafo. E se voce revisse esse trecho? Observasse que do jeito que está o desabafo tende ao melodrama, ao exagero, ao descomedimento. A começar pela quantidade de exclamaçoes logo no inicio.

    E o terceiro diz respeito à frase "Cinco horas depois meu teatro acabou. Faz 40 graus lá fora. Me sinto sufocado. Preciso sair. Vou explodir..."
    Pode ser problema de entendimento meu, mas achei estranho fazer calor de 40 graus la fora e o homem querer sair porque esta sufocado. Tudo bem, ele pode preferir estar la fora, mas isso nao fica claro no texto, e pode parecer falha da autora.

    Enfim, sao sugestoes para a potencializaçao de algo que ja esta presente nas suas linhas. Pense nisso e decida.

    Grande beijo.

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  11. Juliana,
    esse cara sofreu nesse curto espaço de tempo. E só isso já me alimenta (no sentido da escrita), porém ou em roteiro de curta ou texto para teatro, seria bom ir mais fundo, há nuances em tudo que você descreveu, se explorar um pouco mais, dará uma consistência ainda maior ao texto. A semente tem mais frutos! Sorte! grande abraço,Elaine

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