Iberê Camargo - Autoretrato
Transcrevemos aqui, a segunda e última parte do ensaio escrito pela artista plástica e professora Edith Derdyk acerca da obra de Iberê Camargo.
"Iberê transmuta o suporte – a folha de papel – em qualidade especial cuja atemporalidade faz suspender suas ações vitais. As linhas agarram corpos, fixam figuras que parecem estar fora de um mundo estando nelas mesmas, ou parecem estar fora delas mesmo estando imersas em algum dos mundos. Aparecem como lapsos, vãos de onde surgem outros mundos. Aparecem, pois tudo em Iberê parece ser aparições em forma de descompassos misteriosos que somente seu traço estampa e crava no espaço de uma folha de papel em branco suas decisões e indecisões - ir e vir em constante rebuliço.
Quando se diz “uma folha de papel em branco”, supõe-se ter sido branca e imaculada algum dia pois também parece que tal folha faz acordar a espessura de um tempo nostálgico que vem de algum lugar nem aqui nem ali, nem acolá, nem já nem agora, nem antes e nem depois. São ecos ressonantes que se atualizam no instante em que vemos o desenho, pois a linha-traço, em Iberê, cumpre a vocação da fugacidade e transitoriedade, linha em estado de urgência.
“A memória pertence ao passado. É um registro. Sempre que a evocamos, ela se faz presente, mas permanece intocável, como um sonho. A percepção do real tem a concreteza, as realidade física, tangível. Mas como os instantes se sucedem feito tique-taques do relógio, eles vão se transformando em passado, em memória, e é tão inaferrável como um instante nos confins do tempo. A deformação é a expressividade da forma.” (Lisette Lagnado, 1994)
Sua linha tem um dicção muito própria, pessoal, intransferível. É um traço cujo timbre tonaliza as formas que surgem por meio de suas figuras, cenas e objetos temáticos (serie dos carretéis, das figuras sentadas, caídas, das bicicletas...). são traços mais próximos à percepção imprecisa e fugaz, porém verdadeira porque vivida, do que representante de uma clareza idealizadora e estática. Daí a aproximação de sua produção ao expressionismo, que tende a subjetivizar o espaço e o tempo.
Sua linha tem um dicção muito própria, pessoal, intransferível. É um traço cujo timbre tonaliza as formas que surgem por meio de suas figuras, cenas e objetos temáticos (serie dos carretéis, das figuras sentadas, caídas, das bicicletas...). são traços mais próximos à percepção imprecisa e fugaz, porém verdadeira porque vivida, do que representante de uma clareza idealizadora e estática. Daí a aproximação de sua produção ao expressionismo, que tende a subjetivizar o espaço e o tempo.
E por conta da verdade de uma experiência única e individual, a arte em Iberê se torna um testemunho da tragédia humana – patrimônio de todos nós em algum momento de nossas vidas, em qualquer canto da historia de todas as épocas."
DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho : desenvolvimento do grafismo infantil. Porto Alegre : Zouk, 2010.
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