sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Baú de memórias - texto de Ana Cláudia Lima



Iberê Camargo - Sem título - 1959 - pastel seco sobre papel


Ele escolhia dentre tantos livros naquela biblioteca velha, apenas um deles, onde na contracapa pudesse se defender do que acabara de fazer.
Dom Casmurro, esse foi o escolhido, sua história não era a mesma contida naquelas páginas. E foi ali nas primeira páginas que começou a escrever. Contar em detalhes o que fez com aquela que ele considerava uma santa, depois que a encontrou num cabaré de quinta sentada no colo de outros homens.

O baú antigo estava pronto ao pé da porta. Ele o olhou, retomou a escrita. A vida dele estava naquele baú, tudo o que tinha estava lá, e registrou tudo isso.
Antes de terminar de escrever, fez uma ligação em tom sombrio, debaixo das luzes de mercúrio o clima da biblioteca ficava mais agressivo.

Ele vendou os olhos, assinou o Dom Casmurro aberto e obteve nas mãos a presilha de prata que ela mais gostava e atirou-a em sua jugular.
Quando a polícia chegou, encontrou-o debruçado em cima do baú.



(Ana Cláudia   escreveu este relato a partir da apreciação de uma obra de Iberê Camargo. Trata-se da tela Estrutura de objetos, que pode ser encontrada na postagem Festa deste blog.)


Segunda versão


Ele escolhia dentre tantos livros naquela biblioteca velha, apenas um, onde na contra-capa pudesse defender-se do que acabara de fazer.
Ele leu o título de um e gostou. E foi ali nas primeiras páginas que fez seu realto. Contou em detalhes o que fez com aquela que ele considerava como uma santa, depois que a encontrou num cabaré de quinta com outros homens.
O baú antigo estava pronto ao pé da porta. Ele o olhou, fitou-o com carinho e raiva, ao mesmo tempo, retomou a escrita. A vida dele estava naquele baú, tudo o que ele tinha estava lá e também escreveu sobre isso.
Antes de terminar de escrever, fez uma ligação breve, debaixo daquelas luzes de mercúrio que iluminava a sala da biblioteca e que por isso a deixava ainda mais sombria.
Ele vendou os olhos, assinou, obteve em suas mãos a presilha de prata que ela mais gostava e atirou-a na jugular.
Quando a polícia chegou, encontrou-o debruçado em do baú.



Terceira versão


2 comentários:

  1. Ana Claudia, gostei muito da segunda versão, me pareceu mais curta e objetiva e muito mais fluída. Um único "e se" curioso seria a polícia ler o relato. Talvez saber um algo das ações dele, explorar esse lado sombrio que foi afetado pelo comportamento de outra pessoa. um abraço, Elaine

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