segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Estresse - Texto de Miriam Dias de Oliveira



(Foto: Adélia Nicolete)


Homem – Ohhhh! Mulher. Está acelerada! Vamos combinar? Enquanto faz as compras com as crianças, faço minhas coisas e encontro vocês naquele negócio quadrado, triangulo, sei lá.

Mulher – Nada disso! Você não dá atenção para nós na semana e além do mais prometeu ficar com a gente.

Mulher – Não me olhe com essa cara!

Homem – Tá bem! (com cara de estressado e irritado, resmunga) único dia para descansar e eu aqui na Oliveira Lima com a família.

Mulher – (depois de 1h entrando em lojas) Sr. Estressado! Pode fazer suas coisas que daqui 2 horas nos encontramos na obra do Sacilotto.

Homem – Saci o que? Onde fica isso?

Mulher – Prefiro ouvir essa do que ser surda! A obra do Sacilotto meu bem! (tom sarcástico) o quadrado – Tchau!

Homem – (estressado e gritando) onde você andou! 3 horas de atraso...

Mulher – Já sei tá estressado.

Homem – 3 horas esperando vocês (tom de sarcástico)

Mulher – 1 hora atrasada. O que fez?

Homem – fiquei aqui olhando as imperfeições. E aqui consegui olhar para dentro de mim. É fácil ver, o difícil é entender. (dizendo sarcasticamente para a mulher com um olhar fulminante).

        

Luiz Sacilotto - Concreção 8474 - têmpera rhodopás sobre tela fixada em duratex
70 x 70 cm - 1984

12 comentários:

  1. Miriam...
    Gostei! Acho que desta vez você acertou no jogo das falas com simplicidade, porém com um humor implícito nas indicações que você sugere ao personagem “Homem”: estressado, irritado, que resmunga... Gosto da brincadeira que você faz com o Nome do artista – Saci; Sacilotto -, que embora pareça algo comum, cabe bem ao clima estabelecido pela família. Muito bom, Miriam!

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  2. Muito legal! Além de trabalhar a comédia no contexto, você enriqueceu o mesmo com palavras simples como disse o Lima e não perdeu o gingado, onde leva o espectador a compreender melhor, satisfazendo o tempo inteiro com o realismo.

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  3. O texto é leve, cotidiano, claro. Conseguimos visualizar facilmente a cena do marido e da esposa discutindo, a forma como o marido se refere á obra do Sacillotto é ótima... é verdadeira; e a forma como a esposa comenta os aspectos do dia a dia deles falando dos filhos e tudo mais, deixam a cena com aspecto comico e leve porque nos identificamos com a realidade da cena. E a escrita, as intenções das falas que você indica nas rubricas (apesar de perceber e achar que algumas indicações devem ser escritas antes da fala e nao depois delas) e o ritmo das falas nos faz rir. E claro, o desfecho é ótimo.

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  4. Miriam....Cada dia melhor!!! É muito bom perceber o quanto você se solta cada dia mais e curte suas produções. Bem, vamos ao texto: Gostei muito, totalmente dentro das propostas do exercício. Um flash de uma cena muito comum e cômica, com sacadas humorísticas ótimas ("saci o que?") que descrevem a relação das pessoas com a obra analisada, o que dá leveza a produção. Gostei do desafio proposto ao encenador no momento em que você aponta as passagens de hora, isso é um tanto quanto provocador!
    O segundo e terceiro parágrafos que são ditos pela mulher podem ser escritos na mesma fala???? Com alguma indicação de pausa, por exemplo? Eu estranho um pouco essa repetição de parágrafos.
    E a ultima frase do Homem ficou muito confusa para mim. Talvez se você mudasse algo isso clarearia o parágrafo, pois parece que a frase só está ali porque foi sorteada para você, ela foge do restante. E se você tentasse encaixar a frase em algum outro lugar??? Ou tirasse a parte que ele diz: "E consegui olhar para dentro de mim"...?

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  5. Também achei esse texto leve e bem humorado.
    A Miriam conseguiu inserir a Oliveira Lima e a obra do Sacilotto numa história que, com certeza, acontece – ou já aconteceu - na vida de muitas famílias de Santo André.
    Podíamos até fazer essa “mini cena” lá na Oliveira Lima... O que acham ??!!??!!?? Garanto que muitos pais de família iria acompanhar enquanto esperam... rsrsrs
    Adorei o desfecho com a frase “...consegui olhar para dentro de mim. É fácil ver, o difícil é entender” que é profundo mas ao mesmo tempo engraçado por causa das indicações da rubrica.

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  6. Acho muito pertinente o início do texto-exercício quando se sugere que a obra é um “SEI LÁ”. Não saber o que é “aquilo” é muito verdadeiro. Eu, no dia do exercício, ouvi um comentário parecido, de alguém que não sabia onde estava, nem na frente do que estava. Era um “...Sei lá, alguma coisa em algum lugar...”
    A tensão vivida pelas personagens (homem e mulher) é verossímil e muito freqüente em nosso cotidiano, e a mesma, foi suavemente criticada pela autora ao destacar o comportamento do personagem homem com um espírito cavalheiro (até demais para os dias de hoje).
    Pode-se reparar no leve tom de humor sarcástico que flutua durante todo o texto.
    Porém sinto falta de algumas citações para que possamos nos localizar na unidade tempo (mesmo sabendo que este texto pode e/ou deve brincar com as unidades Aristotélicas). O texto dá enormes saltos temporais. Desta forma, pensando em teatralidade, o texto é tanto generoso como confuso. De que forma imaginá-lo encenado? (Mas é claro que em nenhum momento deixo de lembrar das enormes e infinitas possibilidades de encenação que possam ser usadas como luz, sonoplastia, interpretação, etc.)
    O texto termina de certa forma surpreendente pelo tom de “filosofia” colocado na boca da personagem homem... Talvez causando um certo estranhamento diante de seu comportamento durante todo o diálogo.
    Acredito ser divertido interpretar personagens como estes, principalmente (aí entra o meu “E se...”) se estes estiverem rodeados de filhos...

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  7. Encontramos neste texto a linguagem coloquial e uma situação do dia-a-dia que aproximam o leitor. Os diálogos são de fácil dicção e facilmente imaginável falado. Os personagens são definidos, com identidades, pois na própria dramaturgia encontramos a descrição dos falantes: “homem” e “mulher”.
    Percebe-se ainda que as próprias falas ambientam o lugar: “eu aqui na Oliveira Lima”. As implicações do texto são, em sua maioria, verbais ficando por conta das rubricas indicarem os estados dos personagens.
    Há duas quebras de tempo interessante no texto: na rubrica : “Mulher (de de 1 hora...)” e na fala do Homem “ onde você andou! 3 horas de atraso...”. Tais quebras de tempo fragmentam a ação que, de início, parece linear. Este é o grande ganho artístico desta dramaturgia.

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  8. Miriam

    A agilidade presente no seu texto, bem como o humor que perpassa quase todas as falas, dá ao seu diálogo uma leveza indescritível.
    Acredito que a temática abordada é essencialmente pós-moderna: a falta de profundidade das personagens, combinada ao consumismo desmedido. Um reflexo do vazio vivenciado por estes dois personagens.
    Há ainda um jogo de palavras, bem como imagens (obra e quadrado) que presentes na linguagem do texto corroboram ainda mais para o tom cômico da cena.
    Entretanto, existem algumas questões que gostaria lhe fazer:
     Sobre o que você gostaria de falar? Sua intenção refere-se a uma relação esvaziada por parte das pessoas com relação à obra de arte ou o consumismo desmedido que esvazia grande parte da população?
     Os filhos estão presentes nesta cena? Não seria interessante que houvesse uma indicação da presença destes personagens?
     Quando o homem fala que ficou olhando as imperfeições, ele está se referindo a exatamente o que?

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  9. Eu gosto a cada dia dos seus textos, você está desabrochando.
    Muito comum ver casos assim e grandes cidades, ainda mais em fim de semana. Mas é difícil alguém levar no bom humor como essa Mulher faz.
    E consegui tirar uma do Homem, O Sr. Estressado, muito bom.
    Esse é outro texto que é aberto, o como fazê-lo pode ser supreendente dependendo do que o encenador quer dizer.
    Parabéns, Mí!!!

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  10. Miriam? Quem te viu e quem te vê! Iríamos perder grandes momentos divertidos se tivesse realmente abandonado o barco lá no começo. Eu me identifico muito contigo, nas confusões até chegarmos a um resultado de texto, mas é isso ae, cada dia melhorando, é com a prática que certamente nos tornaremos boas nisso. Seu texto é de uma simplicidade incrível, mas não confunda simplicidade com algo desprezível, muito pelo contrário, quase sempre o menos é mais, sem escritas rebuscadas e com palavras e "palavriados" popularmente muito legais! Parabéns

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  11. Miriam, Toque de humor sempre é bem vindo, é quase uma crônica, relatando algo que acontece conosco agora, de forma leve e simples (mais uma vez um simples bem feito)

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  12. Miriam, querida,

    ao ler seu texto fico me perguntando o que pode haver em cena durante esses intervalos que (supostamente) marcam a passagem do tempo.
    Acho um desafio a passagem para a cena. Porque, a meu ver, não bastaria alguém lendo a rubrica “depois de 1h entrando em lojas”, por exemplo. Ou uma legenda indicativa. Essa relação estressada no único dia de descanso só sujeito merece uma encenação que lhe seja contraditória, ou que a intensifique.

    Minha sugestão de “e se...” para você é que, numa reescrita, com mais tempo, você visualizasse a situação e ampliasse o alcance da dramaturgia. Porque o que vemos, por enquanto, é o conflito em relação a horário, à espera. Você até dá uma pista do que pode ser aprofundado: a relação com a obra do Sacilotto – que a mulher reconhece, mas o homem não.
    Então, o que, aparentemente, é uma questão de horários, de estresse familiar, pode adquirir contornos mais profundos, em relação à própria arte, à própria observação – coisa que você também já alinhava na última frase do homem.

    Ou seja, há nesse seu diálogo tenso todo um potencial para explorar os encontros e desencontros na cidade, na vida. Vamos lá?

    Beijos.

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