domingo, 20 de fevereiro de 2011

Glóbulo - Texto de Elen Domingues



Tomie Ohtake - Sem título - 1989 - acr. sobre tela - 75 x 150cm



Hoje eu to com a boca mais amarga que de costume. Nossa! como é horrível tudo isso...
...e pensar que há alguns meses atrás eu tava vivendo a vida adoidado, como diria aquele filme da sessão da tarde...
Tava feliz com o Marcos, a gente se dá bem, temos o mesmo gosto para roupas, para a mesma loção pós barba...
-Alô? Oi meu amor, tava pensando em vc agora...tá tudo bem? Tbm te amo! Tá vou te esperar aqui...bjo
Nada teria muito sentido se não fosse ele...
...a minha família tá longe, meu neto querido...
...e eu to aqui...sozinho...
mas a gente nasce sozinho e teima em se prender as pessoas...Não somos nada...apenas...
...eu não agüento mais vomitar...
...meus cabelos estão ralos...mas eu vou sair dessa...Se Deus quiser


13 comentários:

  1. A locão pós barba foi ótima para esclarecer a identidade do personagem, na medida certa, com pistas para decifrarmos como se fossemos detetives.

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  2. Gostei da forma em que o texto está proposto. O personagem começa a falar de si e dos efeitos causados pela doença que o acomete, e de repente ele muda o tom da fala ao atender o telefone, onde se mostra dócil, carinhoso com o companheiro, como se tudo realmente estivesse bem! Fica até a dúvida se o companheiro está ciente de seu estado... Ele acredita que vai sair dessa... Parece um daqueles casos que aconteceram bem no início da epidemia, onde tudo era muito velado e ainda restava uma ponta de esperança de que a doença não vingasse! Gosto dessa possibilidade da dúvida!

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  3. Imagem genial na minha opinião: - “Hoje eu to com a boca mais amarga que de costume...”
    Usar o filme “Vivendo a vida adoidado” é super bucólico... Muito legal!
    Todas as imagens são surpreendentes e envolventes...
    Roupas, loção...
    Saber que realmente queremos prender as pessoas, mas (para mim, na verdade) gostamos mesmo é que elas estejam presas a nós por vontade própria...
    O silêncio do toque do telefone...
    Lembrar do neto... o Bjo...
    E saber que (pelo menos nessa história), ele (a personagem), na verdade, nem vai sair dessa...

    (Agora, na vida real, Deus realmente existe.) E Graças a ELE.

    Para ELLEN:
    Acredito ser muito importante localizar toda a pontuação do texto e exaltar que sinto a necessidade das acentuações, das letras maiúsculas do inicio das frases, assim como na continuação das reticências, etc... (Mas talvez, seja a maior babaquice... Sei lá... Ser contemporâneo é tão... “contemporâneo”)
    Beijos para toda a família.

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  4. Desde o título já temos imagem de vida! De sede de vida!Com ar de depoimento, o texto da Elen se mostra muito contemporâneo quando nos aponta o tema ainda polêmico: homossexualidade. Onde de dois homens vivendo juntos, e existindo um vestígio de uma outra família. Isso me faz querer saber dessa família.Um outro ponto que aprecio no texto é o momento da quebra de tempo, quando o personagem atende o telefone.Gosto da esperança e do amor que a Elen coloca nessa produção.

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  5. A imagem mais genial, na minha opinião: - “Hoje eu tô com a boca mais amarga que de costume...”
    Usar o filme “Vivendo a vida adoidado” é super bucólico... Muito legal!
    Todas as imagens são surpreendentes e envolventes...
    Roupas, loção...
    Saber e aceitar que realmente queremos prender as pessoas, mas (na verdade, para mim) gostamos mesmo é que elas estejam presas a nós por vontade própria...
    O silêncio do toque do telefone...
    Lembrar do neto... o Bjo...
    E infelizmente,saber que (pelo menos nessa história), ele (a personagem), na verdade, nem vai sair dessa...

    (Agora, na vida real, Deus realmente existe.)

    Para ELLEN:
    Acredito ser muito importante localizar toda a pontuação do texto e exaltar que sinto a necessidade das acentuações, das letras maiúsculas do inicio das frases, assim como na continuação das reticências, etc... (Mas talvez, seja a maior babaquice... Sei lá... Ser contemporâneo é tão... “contemporâneo”)
    Beijos para toda a família.

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  6. Elen:
    Interessante o ritmo deste texto. Eu gosto da maneira como você propõe a pontuação e o modo de trabalhar isso. Me parece inovação e quebra das regras e ritmos que a “liberdade contemporânea” nos permite. Mas tudo isso só tem sentido se for consciente e não meramente reflexo de um hábito, certo? Agora, a temática é digna de atenção assim como algumas passagens preciosas: “Hoje eu to com a boca mais amarga que de costume”; “a mesma loção pós barba...”; “a gente nasce sozinho e teima em se prender as pessoas...”; e até mesmo o título que chama muito a atenção. Só para completar a quebra que provoca o atender do telefone é o grande salto do texto.

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  7. o autor do texto que não revela sua personalidade na sua produção, tem uma qualidade invejável de escritores que não são óbvios. parabéns pela sua generosidade, elen. bjos...

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  8. Ellen

    Gostei muito das imagens propostas no seu texto. Imagino seu personagem parado, passando a limpo a própria vida. A boca amarga é o estopim para esta passagem e as reticências contribuem para o tom desta reflexão. Ao ler este texto me lembrei da Madelaine de Proust, é meio que uma Madelaine às avessas: ao invés de lembranças boas, traz lembranças dolorosas: muito boa a imagem!
    Entretanto, acredito que algumas destas reticências fogem um pouco desta função (caso seja esta a sua intenção com este tipo de pontuação).
    E se...
    No trecho: “Nossa! como é horrível tudo isso...
    ...e pensar que há alguns meses atrás eu tava vivendo a vida adoidado, como diria aquele filme da sessão da tarde..”.
    Você substituísse as reticências por dois pontos. Exemplo:
    “Nossa! como é horrível tudo isso: e pensar que há alguns meses atrás eu tava vivendo a vida adoidado, como diria aquele filme da sessão da tarde.”
    Nos outros momentos que utiliza reticências, vejo os trechos como fragmentos que vêm à cabeça do personagem (foi proposital?)
    Assim como a Suellen concordo que a pontuação da outro tom ao seu texto, mas acredito que você precise pesar o que pretende ao utilizá-la desta forma.

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  9. O título do texto já nos faz pensar em vida, sangue, doença.
    Logo na primeira frase “a boca mais amarga que de costume” a gente entende que o personagem passa por uma fase ruim e podemos imaginar como era sua vida antes quando ele a compara ao filme “vivendo a vida adoidado”.
    A homossexualidade se revela na sequência ao falar da loção pós-barba. Quando ele atende o telefone e fala de amor com seu companheiro, esse personagem fica mais próximo do leitor, parece mais humano.
    As reticências no início e no final das frases de lamentação me passam a idéia de alguém refletindo com serenidade sobre toda sua vida...sem culpas.
    Gosto do otimismo final onde ele acredita que vai sair dessa.

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  10. Elen você quis se referir ao filme Curtindo a vida adoidado ao invés de vivendo?

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  11. Como é lindo, poético, dolorido, emocionante!
    Não é fácil morar sozinho, ainda mais doente, em crise.Esse personagem não se entrega, a gente percebe quem ele talvez seja , nas entrelinhas.
    Gosto das pausas, o fato de não terminar as frases, dito pelo não dito. Prende o espectador se for em cena bem feita. Mas seria desafiador representá-lo.

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  12. Nossa é triste ver que situações assim, vemos como reflexos em nossa realidade.
    É muito claro a forma que ela representa a personagem e os seus problemas, e o mais interessante o ritimo que vem sendo trabalhado no texto.
    Gostei muito, além do que será uma das cenas que farei em nosso fechamento, eita que reponsabilidade.

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  13. Elen, sito que não tenhamos tido tempo para mais escritas e reescritas. Tenho a impressão de que você teria criado muitas coisas bonitas, com podemos perceber nesse texto.

    Achei bom você ter arriscado uma relação homossexual, a partir de nossas conversas sobre relações dramáticas. Creio que esse retrato em seu texto, permeado pela doença, renderia bem um texto mais longo.
    Mas como nossa proposta é de formas curtas,vamos manter nesse tamanho, né?

    Sugeriria, a princípio, que você revisse a gramática e as abreviações.
    Confesso que as reticências me incomodam, mas posso interpretá-las como fez a Monica: são pensamentos soltos.

    E como o texto é aberto, na passagem para a cena permite que haja um interlocutor ou vários para esse sujeito.

    Reveja os comentários dos colegas e, se puder, reescreva. Acho que vale a pena.
    Beijos.

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