segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Invento sentido - Texto de Tátila Colin


(Foto: Adélia Nicolete)


O texto abaixo é uma contribuição espontânea de Tátila Colin inspirado na observação sensível que fizemos da obra de Luiz Sacilotto e do entorno.


Retomando a vida. Vento nos meus cabelos, sol no meu olhar. Eu preciso quebrar a porta sem ferir meus dedos. O vento leva as gotas para longe. O cheiro da terra seca vermelha era diferente. O sol esquenta e dói. Eu destruí a porta. As fendas ainda doem. Eu não saí do lugar. - Mamãe, sabia que eu mudei de medo?...Eu ainda sinto o cheiro dela. Distante, vazia, grossa, quadrada, velha. Porque eu deixei que isso acontecesse?. Eu ainda acredito que lá é meu lugar. Ele escreveu sem saber do céu. Eu... sequei esvaziei, não me movi. Cansei. Quero qualquer coisa, qualquer lugar. Vento! O vento busca meu corpo quando eu estou em mim. Deixa aí no chão. Eu faço parte daqui. Sol! Vento nos olhos apertados. A falta dói e o relógio insiste em funcionar. O vento cessou. Não quero sair para voltar. O vento dança com meu sangue. Meus passos vão saudade vã. Eu vento buscando meu corpo quando estou em mim.



7 comentários:

  1. Mariana Carolina de Lima28 de fevereiro de 2011 às 07:22

    Eu sou fã da Tátila...
    Que texto lindo e escrito assim... nesse meio tempo entre a obrigação e a vontade, o desejo de se expressar! Que lindo, que linda...

    ResponderExcluir
  2. O texto é poético do começo ao fim. As palavras e a sonoridade são trabalhadas e manifestadas através de sensações decritas no texto.
    Observa-se o emprego de vírgulas, pontos, reticências que ditam um ritmo interessante ao texto. Ainda há o fato desta dramaturgia possuir um único parágrafo como a manifestação de um rápido pensamento, um verdadeiro momento de inspiração.
    O jogo das frases da maneira como está trabalhada dita um tom melódico. E se... investisse nisso e transformasse esse texto em uma letra de música? Bem no estilo Renato Russo.
    Agora, na informalidade, eu sei e você também já sabe quem pode te ajudar a transformar isso em música, né? rs
    A inspiração e o desejo de se expressar você já tem.

    ResponderExcluir
  3. Ah! e o refrão tem que ser:

    "O vento busca meu corpo quando eu estou em mim.
    Eu vento buscando meu corpo quando estou em mim."

    São demais essas frases!!

    rsrsrs

    ResponderExcluir
  4. Li um poema Cecília Meireles que me fez lembrar do seu texto:

    Canção


    No desequilíbrio dos mares,
    as proas giram sozinhas...
    Numa das naves que afundaram
    é que certamente tu vinhas.


    Eu te esperei todos os séculos
    sem desespero e sem desgosto,
    e morri de infinitas mortes
    guardando sempre o mesmo rosto


    Quando as ondas te carregaram
    meu olhos, entre águas e areias,
    cegaram como os das estátuas,
    a tudo quanto existe alheias.


    Minhas mãos pararam sobre o ar
    e endureceram junto ao vento,
    e perderam a cor que tinham
    e a lembrança do movimento.


    E o sorriso que eu te levava
    desprendeu-se e caiu de mim:
    e só talvez ele ainda viva
    dentro destas águas sem fim.

    ResponderExcluir
  5. Tátila, q texto, hein!!!
    "Meus passos vão saudade vã".
    Você brinca com as palavras, o sentido do que se quer dizer, gosto quando vc abusa da forma da escrita, é facilidade sua, agilidade que quase ninguém tem.
    Aproveite, escreva e nos encha de vida!

    ResponderExcluir
  6. Pq meu cotovelos doem quando leio seus textos hehe. Tatila seu texto é uma delicia de ler, ele aparece com um tom poético, muito teatral. As palavras são muito bem escolhidas isso deixa seu texto com uma carga de que foi muito bem pensado e elaborado. Eu li aqui em vós alta e as palavras caem perfeitamente é muito sonoro. Montaria fácil esse texto e conservaria cada palavra

    ResponderExcluir
  7. Que maravilha!

    A uma serenidade voando pelo ar em seu texto, que lindo!
    Suas escritas são tão claras e deliciosas de ler.
    Adoraria ver um espetáculo dessa linda e bela poesia.

    ResponderExcluir