segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Texto de André di Peroli


(Foto: Adélia Nicolete)


SEGUNDA VERSÃO
(refeita após sugestões e comentários dos colegas de aula)


Um casal em frente a uma escultura de ferro enorme.

- Ferrou, amor! Não é aqui!
- Como não é? A recepcionista disse por telefone que era em frente á uma escultura enorme de ferro pintada nas cores brasileiras e que foi feita por um artista lá do Brasil.
- então, estamos perdidos! Olha aqui em volta: prédios, pessoas, prédios, pessoas... tudo cinza! Nada verde e amarelo... nem colorido...
- calma, amor. Vamos perguntar pra alguém.
- Pergunta você!
- please... please... you... help! (pausa) Help! Perdidos!
- Brasileiros?
- Sim! Brasileiros de São Paulo!
- Que beleza! Baiano! Da Bahia mesmo! Tão perdidos, tão?
- Tamos!
- Sabe, moço, me disseram que ele estaria em frente a uma obra de arte brasileira... mas até parece que eu vou ficar prestando atenção nessas coisas, né? Mas deixa pra lá!(pausa) E compras? Onde é bom pra comprar aqui? Você chegou aqui faz tempo, né? Ai, quero comprar tudo! Me conta tudo!

Saem os 3 brasileiros andando e conversando animados como velhos amigos andando pelo caos da cidade desconhecida.




13 comentários:

  1. André...
    A idéia é genial até o momento em que eles pedem informações às pessoas. Depois, há uma certa confusão nas falas, de quem está falando para quem, ou, quem estaria a responder á quem... Ainda assim a idéia dos personagens estarem perdidos permanece, é muito interessante o conflito que se estabelece ali. Talvez se você revisse as falas centrais, para que elas ficassem mais definidas; o texto pudesse ficar mais gostoso. A idéia é ótima!

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  2. Sem sombra de dúvidas, o leve tom do humor usado pelo autor é de muito bom gosto e muito bem vindo... (Principalmente pelas circunstâncias somente entendidas por alguns, mas claramente percebidas por todos diante das imagens postadas).
    É divertido acompanhar essa “aventura” em que os personagens criados estão vivenciando...
    As surpresas oferecidas no texto-exercício como o “Baiano da Bahia mesmo!” são muito atuais e verdadeiras... (Já que para muitos, “baiano” tornou-se um adjetivo de pessoas com mau gosto em relação à moda) Nessa hora, enxergo o contemporâneo e o questiono.
    Diante do exercício proposto, é sensacional reconhecer e relacionar a futilidade das personagens perdidas ao trocarem a real necessidade de se encontrar, pela importância de consumir... (Mas sinto também que a mudança na necessidade do casal de encontrar o hotel, no caso, tenha sido muito brusca e inverossímil...) Onde e quando se fala da bagagem que provavelmente esteja junto ás personagens? Com certeza eles devem ter malas... (Mesmo que sejam sacoleiros...).
    Também questiono o fato de colocar o objeto hotel como “ele” não tenha sido a melhor opção. “E se...” o autor optasse pelo “deveríamos estar em frente a uma obra...”?
    Mas, fico feliz e muito satisfeita em reconhecer que o autor conseguiu reconstituir exatamente o dia do exercício, e perceber que os cidadãos, assim como suas personagens, simplesmente passavam pela obra por nós observada. Ninguém enxergava a obra, somente buscavam consumir.
    Um texto muito agradável de se ler, principalmente para quem esteve presente durante o exercício.
    (Gostaria que não fosse ofensiva nem agressiva a sugestão de verificar a pontuação no diálogo. Sinto muita falta das letras maiúsculas no início das frases e os espaços necessários entre as pontuações).

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  3. André pode ser coincidência, mas você voltou pra turma e o riso voltou junto!!! Hahahaha.
    Seu texto tem muita descontração, muito humor. A simplicidade com que você escreve as falas dessas personagens as aproxima da minha realidade e talvez isso faça eu me identificar com o texto. Você conseguiu descrever exatamente o peso da escultura “invisível” entre tanta gente, tanto consumismo, tanta confusão, assim como observamos na aula. De um ritmo rápido e muito fluente seu texto parece um trailer de cinema...
    • Senti falta de uma vírgula no segundo travessão logo após este trecho: “... escultura enorme de ferro” aí eu encaixaria uma vírgula e depois vem o resto da frase “pintada nas cores...”
    • Gostei da repetição: “prédios, pessoas, prédios, pessoas...”. Dá impressão que isso vai tomando uma dimensão enorme e os dois vão ficando muitoooo pequeninas.
    • E se você trocasse o “- Tamos.” Por “-Estamos”? Estranhei um pouco esta palavra e acredito que a troca não mudaria o teor do texto.
    • Uma duvidinha: o final foi muito modificado? Não me recordo do outro, mas parece que sinto falta de algo!
    Missão do exercício cumprida André!!!!

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  4. Vejo bom humor no texto, mesmo as personagens estando perdidas. Parece que tudo vai ser uma grande aventura, cheia de confusões...
    Talvez por já ter passado por situação parecida (perdida em um país estranho sem falar a língua local) acho perfeito o diálogo entre homem e a mulher, simples e bem natural.
    Até entendo a euforia de se encontrar outro brasileiro em meio a tal confusão, mas fico um pouco confusa quanto as prioridades do casal. Eles desistiram de achar o hotel e só querem saber de compras ? Achei essa mudança de interesse muito rápida.

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  5. André,

    Acredito que você, nesta versão, conseguiu expressar melhor a ideia de bonde andando. Muito boa a sua rubrica inicial, que apenas situa a ação e não detalha demais o que se seguirá adiante.
    Interessante o ritmo do seu texto: através de frases curtas, fragmentos e suspensões podemos observar através da linguagem como os personagens estão perdidos.
    Gostaria apenas de fazer uma colocação com relação a esta linguagem: percebi uma oscilação entre o uso da variante culta e da coloquial, foi intencional?
    Há momentos em que seus personagens empregam uma variante digna de literatos, em outros utilizam termos como ferrou, tamo e tão. Seria interessante que você optasse por uma destas variantes, acredito que a coloquial seria a ideal para o seu texto. Veja o que é melhor.
    O final do seu texto deixou em suspenso o que acontecerá com os três personagens. Entretanto, deixo uma pergunta para você: A última rubrica é mesmo necessária?
    Vejo certa redundância entre ela e a última fala, o que você acha?

    Obs.: 1) Na frase “A recepcionista disse por telefone que era em frente á uma escultura...”, a crase não foi empregada de maneira correta. Quando estava na faculdade, batia a cabeça com o uso da crase, então eu aprendi algumas regras valiosas, dentre elas tem uma que poderá te ajudar: não utilizamos crase antes de um artigo indefinido (isso já elimina uma série de circunstâncias, o que é muito bom).
    2) Na sua rubrica você utilizou duas vezes a palavra “andando”, seria bacana que você suprimisse uma para que não houvesse redundância.
    3) Observe se não há uma incongruência nas expressões “pintada nas cores brasileiras” e “foi feita por um artista lá do Brasil”. Neste ponto reafirmo a importância do uso de termos mais coloquiais, a não ser que você tenha, com estas expressões, uma outra intenção que não percebi, neste ponto, você avalia o que é melhor.

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  6. O autor trabalha claramente a temática do descaso da obra que serviu de inspiração para o exercício. Percebe-se o desenvolvimento da observação objetiva do entorno, não se preocupando com o sensitivo e sim com a crítica a tal situação.
    No que se referem ao desenvolvimento do diálogo, as rubricas são bem trabalhadas apresentando e encerrando a cena, como se contasse uma história. Numa concepção ousada de encenação elas até poderiam virar texto.
    Os personagens estão definidos, a linguagem trabalhada é simples e aproxima o leitor-espectador. A quebra da ação dos personagens que mudam o foco do seu interesse é repentina e causa estranhamento ampliando a crítica à futilidade que o autor propõe.

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  7. Interessante a escrita e o mesmo pegou o bonde andando o qual foi a proposta,a variação de línguas que ele usou, fez com que o texto torna-se mais humorizado e real, está frase:
    - Sabe, moço, me disseram que ele estaria em frente a uma obra de arte brasileira... mas até parece que eu vou ficar prestando atenção nessas coisas, né? Mas deixa pra lá!(pausa) E compras? Onde é bom pra comprar aqui? Você chegou aqui faz tempo, né? Ai, quero comprar tudo! Me conta tudo!Porém esse términio(Me conta tudo!), acho desnecessário,bom vai uma sugestão queridão!
    Seu texto me fez lembrar da pós modernidade, onde a necessidade de consumir cresce cada vez mais, onde as pessoas acabam sendo influênciadas pela própria mídia.

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  8. André, tudo de bom, bom humor, dinâmico, embora perdidos. Acho ótima a quebra feita quando pergunta sobre onde comprar, até se esquece o que procuravam, aliás, ótimo ter tirado que era o Hotel, da mais liberdade criativa pro espectador pensar o que é, e também para o encenador.
    Gosto da rubrica final, parece cena de filme, que sai do close e amoplia a cena, acompanha eles na multidão até sumirem.
    Seja bem- vindo!!!

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  9. Gostei do bom humor proposto de uma maneira leve e sutil, o texto caminha muito bem até o momento em que as personagens mudam de idéia e abandonam o objetivo de estarem ali, perdidos e desesperados. Como sugestão, penso que ficaria muito mais surpreendente uma idéia mais impactante, e não somente o de comprar(o que hj em dia é super natural, devido ao nosso consumismo), creio que para o André, uma idéia mais original e bem mais humorada não seria nada difícil, já que ele é assim, tão bem humorado sempre.

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  10. O tom de humor deu um susto em nós hehe, todos estávamos com uma tendência a algo mais vísceral. O quiproquó é fantástico e simples (mais uma vez o simples muito bem feito). Temos a forma "aristotélica" começo meio e fim, essa cadencia ajudou no tom de humor que você utilizou. agora desafio você hehe E SE... Brincasse de fragmentar esse texto, como no esperando godot onde a conversa "no sense" cria um tom satírico das coisas.

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  11. André, o texto denota um comportamento tipico brasileiro.
    Texto e contexto simples de fácil compreensão e os personagens perdidos tras uma comicidade para cena. A futilidade é genial, pois os brasileiros gostam de se divertir e comprar. O encenador não terá dificuldades em criar a cena e o espectador se identificará em alguma situação, principalmente na mudança brusca de atitude quando encontra o baiano e tem ajuda para sair da confusão.

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  12. André,
    um golpe de ar fresco no cotidiano dos dias. Gostei do texto e gostei do que ele provocou, não só em mim, mas em todos os participantes. Para cada leitura de post, um aprendizado. O bom humor é algo importante, ele gera uma oxigenação diferente e nos permite que o aprendizado, flua melhor. E me parece que teu texto também teve essa função. Bacana ver essa maturidade do grupo participante aparecer. E por favor, me perdoe o feed back ao grupo através de teu texto, mas veja, foi o que ele causou. A leveza e a certeza de que nada é como parece. Acho que os colegas tiveram otimos posicionamentos e dicas e portanto não tenho nesse momento nenhum " e se". sigo acompanhando.Beijão proce Elaine

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  13. André, meu lindo,

    fico pensando em como teria sido bom se você tivesse participado do ateliê desde o princípio.
    Porque você, sem ter vivenciado o processo, assim, pego de surpresa, chegando de repente, já teve de observar todo um trajeto, uma obra, anotar, imaginar uma situação, criar um diálogo. E fez muito bem. Nessas horas de emergência, lançamos mão de nossas referencias mais fortes e são elas que nos salvam.
    Portanto, creio que para um primeiro texto você se saiu muito bem.

    Essa proposta – a última do programa – era de um diálogo. Um diálogo revisitado, em que pudéssemos transgredir alguns elementos da estrutura dramática em busca de um outro tipo de troca (ou não) entre os sujeitos envolvidos.
    Na emergência, você transgrediu em relação à identificação dos personagens, seus gêneros, seus nomes. Mas isso não chega a interferir profundamente na situação, não altera a estrutura em si, entende? Ela permanece dramática. Há uma ordenação clara de tempo, de lugar – mesmo que não saibamos onde estão ou que horas são. Há uma situação, um conflito claros e uma solução, ainda que provisória para ele.

    Anoto tudo isso apenas para reforçar que você teria rendido muito se tivesse estado conosco o tempo todo. Se quiser, tem um lugar reservado pra você na próxima edição. Um lugar vip.

    Beijos, querido.

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