segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Texto de Tátila Colin



Tomie Ohtake - Sem título -  1993 - água tinta, soucre e água forte - 53 x 79cm


Não! Eu não consigo! Por favor! Eu não posso! Você não faz idéia do quanto foi difícil ficar assim! Tira essa merda daqui... Mãe!!!
Pede pra ela entrar. Eu não quero!Não! Sai com isso daqui. Eu vou ficar inchada. Se eles não me escolherem eu te mato!
Mãe!!! Mãe me tira daqui. Ai! Isso ta me machucando. Mãe ela quer me forçar. Eu cuspo, eu vomito tudo. Eu não quero. Eu não posso! Eles não irão mais me chamar. Ela falou, ela me avisou que eu não podia. Liga pra ela mãe. Tira isso daqui! Eu não preciso dessa merda! Eu não quero comer. Por favor! Não moça!
Mãe, não deixa...

16 comentários:

  1. O texto é forte, e mostra a o desespero da persongem que convive com o seu eterno drama do "controle" pela falta de apetite,e que está muito claro na forma da escrita de um autêntico texto dramático. Muito bom!

    José Lima

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  2. Acredito que o texto da personagem esteja claro (claríssimo), bem localizado em um onde, com ritmo, mas questiono “qual o efeito que se quer produzir?”
    Minha única dúvida?
    A personagem precisará de mais duas personagens para a cena acontecer?

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  3. Mariana Carolina de Lima23 de fevereiro de 2011 às 18:34

    Gosto do jeito com que esse texto foi conduzido. Todas as frases são "falas" da personagem, então vamos desvendando a história passo a passo. Embora haja o desespero da personagem, é exatamente ela quem "decide" a hora do desfecho, o momento certo de se expor.

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  4. Eu gostei muito, porém fiquei com uma dúvida na frase: Pede pra ela entrar. Não entendi, pq analisando o desespero da personagem em não querer, se for ela quem esta dizendo não tem sentido, agora se for a mãe dizendo, tem toda uma lógica, porém sinto falta de uma pausa pra que a história aconteça com mais clareza. Mas se eu estiver falando alguma bobagem, clareiem a minha mente por favor amigos! rs

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  5. Elen, é a personagem mesmo que está dizendo. Quando fiz o texto imaginei a mão do lado de fora do lugar, e a personagem querendo ajuda da mãe.e quanto a pausa, eu quis fazê-lo sem mesmo, mas posso tentar mudar isso!

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  6. CORRIGINDO : imaginei a mãe dela, e não a mão dela..

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  7. Acredito que o texto da personagem esteja claro (claríssimo), bem localizado em um onde, com ritmo, mas questiono “qual o efeito que se quer produzir?”
    Minha única dúvida?
    A personagem precisará de mais duas personagens para a cena acontecer?

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  8. Depende Azê...a cena pode ser montada como quiser!Se quiser mais duas pessoas ok! Senão quiser, eu acredito que a montagem fica muito mais rica... depende de quem for montar. E quanto "qual efeito que se quer produzir?" qual efeito que produz em você?

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  9. Agoraaaaaaaaaaaaa sim...imaginei o desespero dela com a mãe num mesmo ambiente e a mãe falando a uma terceira pessoa na sala em tom de pesar: Pede pra ela entrar! Mas foi mais uma leitura de tantas que podemos ter! Obrigada Tátila pelo esclarecimento...vc sempre muito gentil!

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  10. Ótima a ideia do personagem que não tão somente narra a história, mas se dirige a um interlocutor específico que também é outro personagem. Seu texto ganha uma tensão muito grande em função da maneira como foi construído. As frases curtas dão um ritmo alucinante à narrativa e as reticências no final, remetem a uma suspensão, o que proporciona uma quebra a este ritmo.
    Acho bacana a possibilidade de duas encenações e legal que você não determine isso através do texto.
    Obs.: Seu pontos de exclamação me fizeram lembrar de Antigone: a mesma intensidade!

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  11. Tátila,
    Engraçado que você fez mais ou menos o que eu tinha sugerido para a Aretha... e olha que eu nem tinha lido o seu texto ainda... E foi justamente pensando numa intensidade como eu encontro no que você escreveu que dei esse “e se” para nossa colega. O uso de termos como “merda” e “mãe” repetidas vezes e as frases curtas já colocam a idéia de fala, como a Mari bem observou. Assim, temos uma cena pronta e o fato da personagem falar com a mãe desesperadamente e uma terceira pessoa (isto está bem claro no texto) nos abre um leque imenso de possibilidades de encenação.

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  12. Quando ouvi a primeira vez na sala já imaginei ele encenado, pensei como seria colocar esse desespero em cena, e há muitas possibilidades.
    Gosto do ritmo do texto, da própria personagem falando o tempo todo.
    A pontuação (exclamações) deixa o texto mais intenso e dá mais atitude as falas da personagem.

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  13. Interessante a construção da sua personagem, partimos de pontos semelhantes em nossas cenas.
    A mídia é tão poderosa que nos dita os padrões de beleza.
    Mas ficou uma dúvida em sua cena, a mãe é conivente com a situação de sua filha?
    Pois ela semple clama pelo socorro de sua mãe para não comer. Era esta sua intenção?

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  14. Tatila
    Fiquei imaginando uma cena,mas muito real,onde vemos a influência dos meios comunicativos se fazendo presente o tempo todo.
    Quando ela cita:
    Não! Eu não consigo! Por favor! Eu não posso! Você não faz idéia do quanto foi difícil ficar assim!
    Vejo neste trecho a idéia principal do texto,onde ela deixa bem claro o porque desta situação para o publico, onde o mesmo consegue transmitir a mensagem com coêrencia, trazendo seu fechamento com um gostinho de quero mais... Sim em CENA!!!

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  15. FORTE!
    A cena é forte,mas essa personagem é demais!
    Dramática, eu ouço os gritos dela, vejo a carinha de meiga pedindo para a mãe.
    Embora ela se mostre o tempo todo, é uma personagem difícil, depende de como o encenador vai trabalhá-la.

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  16. Oi, Tátila.

    Nossa proposta foi a da escrita de um retrato. Deveríamos vasculhar em nosso entorno alguma personagem/figura/alegor que, de algum modo, fosse nossa contemporânea.
    Você escolheu uma anoréxica e a apresentou a nós em um momento de crise.
    Como seus colegas notaram, há uma grande carga dramática, tensões, etc.

    Esse preâmbulo todo é para que falamos numa reflexão sobre a pergunta da Azê: o que você quis provocar com esse texto?
    Você respondeu com uma pegunta: o que você percebeu:?
    É uma resposta que aprendemos a dar quando nos perguntam sobre nossa intensão criativa.
    Porém, no caso do ateliê, acho que é uma pergunta bem importante. E a resposta, se você não a tem, deve procurá-la. (Eu acho que, na verdade, você tem...)

    Veja quem, mesmo sem saber, você provocou reações nos leitores. Imagine se provocar intencionalmente? Aí o ato criativo se dará ainda mais plenamente.
    Vamos nos lembrar sempre, ao escrever, daquelas observações a básicas:
    sobre o que eu quero escrever?
    para quem?
    o que eu quero provar?
    como posso conseguir isso?

    Visamos o prazer do leitor/receptor, certo? Esse prazer pode ser tristeza, terror, não só contentamento.
    E o leitor tem prazer quando percebe o prazer que conduziu a escrita. O prazer que o autor teve em elaborar essas formas de provocar o prazer no outro, entende?
    O receptor percebe, de alguma forma, essa elaboração. Daí a leitura se torna uma especia de co-autoria!

    É isso, querida. Algo para refletirmos. Todos.
    Beijos.

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