domingo, 27 de fevereiro de 2011

Texto de Tércio Emo


(Foto: Adélia Nicolete)


- Carlos você é meu amigo, parceiro. Mas para com isso agora.
- Não consigo evitar
- Nunca pensei que lhe daria conselhos amorosos. “O Carlos” sempre foi bem resolvido. Tem de tudo.
- Ter tudo? Mas não tenho nada. Meu trabalho em primeiro plano. Sabem meu nome, mas me conhecem?
- Eu conheço.
- Conhece mesmo?
- Conheço?
- Sou grande / estou imóvel / no meio caminho /  MAS NINGUÉM ME VÊ.
- Carlos para de drama
- Carlos você é meu amigo, parceiro. Mas para com isso agora.
- Não consigo evitar
- Nunca pensei que lhe daria conselhos amorosos. “O Carlos” sempre foi bem resolvido. Tem de tudo.




Luiz Sacilotto - Concreção 7553 - oleo sobre tela - 52,5 x 75cm - 1975


12 comentários:

  1. Mariana Carolina de Lima28 de fevereiro de 2011 às 16:24

    Tércio, eu entendi??? Esse texto é uma dízima periódica??? Vai se repetindo infinitamente e com a troca de personagens???
    Se for isso, AMEI... quer dizer, não que eu não tivésse gostado quando apenas ouvi na sala, mas agora LENDO, acho que captei essa idéia de repetição, de mesmice...
    Outra coisa que aprecio, é não saber quem é que fala com o Carlos... pode ser homem, mulher, ele mesmo... Texto totalmente aberto nesse sentido.

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  2. Tércio
    Seu texto tem algo de estranho, e como você mesmo usa dizer: “não sei se isto é bom, ou, se ruim...”, mas digo que a idéia de no final você voltar ao começo, me passa a sensação da mesmice do cotidiano das pessoas, que deixam de reparar, nas coisas, ainda estas sejam visíveis; “MAS NINGUÉM ME VÊ!” Eu adorei!

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  3. Tercito...

    Acho que é unânime: a idéia da repetição das três primeiras frases do diálogo no final da cena é ótima pois gera essa ideía da mesmisse, da rotina, da falta de resolução dos nossos problemas no ritmo frenético que vivemos. E a falta de descrição da personagem que fala (nao sabemos se é homem, mulher ou outra indicação qualquer) nos deixa livre para imaginarmos o que bem entendermos e criar a cena ao nosso modo. Pra mim, o texto é perfeito... sem correções ou acréscimos.

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  4. Confesso que quando ouvi o texto na sala de aula não interpretei como agora, naquele momento só pensei “lá vem o Tércio e suas repetições...” Mas lendo com calma, parece que o autor quis enfatizar a mesmice do cotidiano nas repetições dos diálogos.
    A rotina fica banalizada e os problemas parecem nem ter tanta importância assim.
    Gosto de não saber se a personagem que fala com o Carlos é homem ou mulher, fica a cargo da encenação. Não tem orientações em rubricas então a dramaturgia fica bem aberta.

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  5. Tércio : que personagem mais maluca essa! Não consigo saber se é um diálogo entre amigos, se o Carlos está no espelho. Isso é muitooo legal! Dá uma grande margem de montagem. Fica a critério do leitor, do encenador...
    Totalmente dentro da proposta seu texto está pronto para o palco! A quebra que você dá na frase “ “O Carlos” sempre foi bem resolvido. Tem de tudo.” , dá inteira teatralidade ao texto.
    Nos 9º e 10º parágrafos, quando o nome do Carlos se repete ao início das frases, tenho a impressão de que há uma terceira personagem em cena, o que melhora ainda mais sua produção.
    Muito bom seu texto. Eu não mudaria absolutamente nada.

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  6. O texto possui troca de falas alternadas entre, pelo menos, 3 personagens. A dramaturgia é aberta deixando espaço para imaginação e ainda pode ser completada pela encenação. As implicações de conflitos são traduzidas pelas falas em que se observa alguns consideráveis subentendidos entre os personagens.
    O diálogo construído registra uma espécie de desgaste das situações em que torna a fala redundante. Percebe-se isso através da repetição de frases inteiras.
    Só para acrescentar, e se: trabalhar as réplicas do diálogo por um encavalamento de assuntos redundantes e banais, fragmentar ainda mais as falas para que não se definam a quantidade de personagens dando mais espaço para encenação.

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  7. Quantas vezes já não ouvimos dizer que imagens valem muito mais do que palavras... Mas neste jogo, o autor se inspira nas diversas palavras, assim comunicando e criando imagens. Poderíamos chamar “poder mágico” de transformar palavras em imagens ou vice-versa. Podemos reparar em certo acontecimento que marcou a história de uma das personagens (aquela que não consegue esquecer) denunciada pela repetição do problema. Alguns problemas momentos/problemas ficam gravados em nossa memória e em nossa alma. O mistério e o humor estão implícitos no texto e resultam como os ingredientes essenciais da história.
    Assim como em outros textos criados pelo grupo, se faz necessário apreciar as semelhanças entre eles. Mesmo sendo originais.

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  8. Tércio

    Ao ler o seu texto tive a impressão de estar diante de um mantra. Observo sua cena, como se ela estivesse dentro de um movimento circular, em que o diálogo encerra-se em si mesmo.
    Já te disse que sou fã dos seus personagens masculinos e acho que você aborda muito bem a solidão destes personagens.
    Observo mais um homem só que sobre com esta solidão, o seu texto fala muito mais do que “conselhos amorosos”: “sabem meu nome, mas não me conhecem”.
    Ao ler o seu texto me lembrei um pouco sobre o coro contemporâneo. Sua cena me certa ideia de coralidade: imaginei estas falas ditas por vários personagens, remetendo a este todo que é “O Carlos”. Diferentes possibilidades de encenação, dramaturgia abertísssima!
    Só tenho uma questão para você:
     O Carlos é um personagem que obrigatoriamente faz uso da norma culta? Qual a sua opção de variante linguística para este(s) personagem(s)?

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  9. Acho muito bom, parece as ladainhas e beira de boteco, consigo ver os personagens. E existe inúmeras propostas se houver repetição, o encenador poderá trabalhar com diversos gêneros, formas, intenções.
    Dá uma liberdade, uma vontade de começar a trabalhar já com o texto.
    Tércio, você que sempre escreve sobre pessoas solitárias, dessa vez um dos personagens está se sentindo só, mas tem outro que não deixa, não sei se é de proposito, eu achei genial!

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  10. Tércio,

    já comentei em sala que esse texto fecha a sua trilogia do ateliê. Solidão é o nome dela.
    Você começou com o homem sozinho numa biblioteca imensa de livros nunca lidos; passou pelo homem sozinho no caixão, cercado por amigos que podiam ser contados nos dedos, e concluiu com o homem bem sucedido, cercado de muita gente que sequer sabe quem ele é, pois nem chega a vê-lo, apesar de tão bem sucedido.
    São três faces de um tema. Três pontos de vista.

    Acho saudável que você, sendo palhaço, tenha criado esses textos. Percebo um exercício bom de contenção, de sensibilidade que percorre outros ângulos que não o cômico...
    Talvez por ser escrita e não improvisação, você mobilizou uma outra área criativa.
    Quem sabe isso tenha sido estimulado com as leituras que fizemos das peças contemporâneas? Lembro do jeito que você gostou do Beckett, da Sarah Kane, por exemplo, e das ligações que fez com nossos estudos do contemporâneo.

    Bem, desse terceiro texto, já comentado pelos colegas, vejo, além da solidão, o vazio. Um diálogo sem espírito, como tantos que a gente faz e ouve. Os argumentos são poucos, a conversa não evolui. Um conflito interior que poderia gerar uma grande situação de descoberta, de revelação humana, não evolui, fica parecendo disco arranhado. É como aqueles papos de boteco, que giram, giram e não chegam a lugar nenhum. Voltam ao ponto de início.
    Bem que poderíamos continuar o ateliê, né, Tércio?... O que mais sairia da sua cabecinha de vento? ;)

    Abraços.

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  11. quando é próximo? estou dentro hehehe. Obrigado Grande mestre, ja colei seu poster no meu quarto, do lado do Alexandre Matte e do Sidney Magal. Bjs

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